Cláudio Mafra
“Sua escuridão era impenetrável. Olhava para ele como olharia alguém que se encontra no fundo de um precipício onde o sol nunca brilha” (Joseph Conrad)
O Querido Líder, Kim Jong-il, parece que ficou gravemente doente e correu pelo mundo a notícia de que poderia morrer. Para decepção dos seus magérrimos generais, que já estavam preparados para atacar suas famosas adegas e armazéns de comidas importadas, ele se recuperou, e voltou com a corda toda. Agora, está ameaçando, iniciar uma guerra se interceptarem o foguete que ele mandou passar por cima do espaço aéreo japonês. O mentiroso Querido Líder diz que está testando o lançamento de um satélite e que se alguém derrubar o foguetaço será o fim dos tempos, um novo conflito que todos os coreanos, do Norte e do Sul, temem desde o armistício firmado em 1953. Ele é um grande jogador e o mundo ocidental nunca sabe se está blefando. As maiores apostas são que sim, que ele não se atreveria a enfrentar o formidável poderio americano, e chegar ao fim de seus dias sendo exibido como um espetacular troféu de guerra. Acontece que a pequena fração de dúvida é suficiente para grandes temores. Afinal, ninguém conhece os limites de sua loucura, e mesmo com uma ação militar combinada USA-Coréia do Sul, parece que ele faria enormes estragos, matando por volta de 60 mil sul-coreanos. Kim Jong-il também acena para seus vizinhos e para os Estados Unidos, com a possibilidade de fabricar a bomba atômica. As negociações para impedir que siga avante com seu programa nuclear arrastam-se há muitos anos, da mesma maneira como acontece com o Irã. A diferença nos dois casos é que, para Kim, a bomba é apenas uma maneira de conseguir chantagear o Ocidente e conseguir dinheiro para se sustentar no poder. Para isso ele conta com a ameaça terrivel (e um louco sentimento de vingança) de poder vender seus segredos nucleares para os terroristas islâmicos.
No país mais fechado do mundo, o último que conserva o stalinismo em seu estado puro, é terminantemente proibida a entrada de jornalistas sem expressa autorização do governo. A única agência de turismo em contato com os norte-coreanos exige que a pessoa assine uma declaração afirmando não ser da imprensa e faz uma longa advertência sobre as consequências de uma mentira. Afastada essa hipótese, e sem querer me expor, pedindo uma permissão que certamente seria negada, decidi tentar diretamente a embaixada norte-coreana, onde meu plano era o de contar uma meia verdade, dizendo ser um funcionário público aposentado querendo fazer turismo.
A tensão começa quando o soldado chinês abre o portão da embaixada. Tecnicamente eu e a minha intérprete já estamos em território da Coréia do Norte e este é um país muito perigoso. Fomos levados para uma pequena sala onde o funcionário, fumando um cigarro atrás do outro, abre um sorriso quando nos apresentamos e faz a habitual introdução que é o grande trunfo dos brasileiros em qualquer lugar do mundo: “Brasil, futebol”. Faltou a continuação, que é “Ronaldo, Rivaldo”, mas já está muito bom. A intérprete entra firme com a história do funcionário público e do turismo. Depois de alguns minutos de conversa ele se levanta e diz para voltarmos no outro dia. E assim foi durante toda a semana. Pequenas entrevistas onde a única coisa que muda é o preço da viagem, sempre subindo. Finalmente ele anuncia que eu vou poder viajar. O pacote é para quatro dias e cinco noites. Vou visitar a capital Pyongyang, as cidades de Muohyang, Kaesong, e um lugar especial, Panmunjom, na fronteira com a Coréia do Sul. Os hotéis, refeições, transporte e guias estão incluídos no preço de 860 euros. A passagem de avião Pequim-Pyongyang-Pequim custa 286 euros. No total são 1.146 euros, ou 1.433 dólares. O dólar foi oficialmente banido da Coréia do Norte, mas é o que eu tenho na mão, e ele o aceita sem qualquer hesitação. Um pouco sem graça me pergunta se eu quero que ele mesmo compre a passagem. Avisa que vai ficar mais caro. Não posso comprá-la sem sua autorização, é claro. Percebo que existe malandragem nessa história, procuro deixá-lo à vontade, e concordo com tudo. Também fico mais aliviado. Afinal não são tão durões assim. Imagino se ele não está arriscando o seu pescoço.
Na manhã seguinte, quando vou buscar os meus papéis, a intérprete me diz que não vou mais poder viajar. Será que eles descobriram alguma coisa? Não, é apenas um truque para gerar insegurança. O próprio funcionário já havia me advertido de que nada é definitivo. Eu posso ir, ou não, o programa ser mudado, ou até me despacharem de volta antes da hora.kEstou tendo uma demonstração, no microcosmos, do que a comunidade internacional conhece como sendo a imprevisibilidade e truculência do comportamento norte-coreano. Mais alguns minutos de conversa e fica o dito pelo não dito – a viagem foi autorizada. Três horas antes do embarque me entregam o passaporte sem o visto, apenas com um papel carimbado, solto entre as folhas. A passagem é só de ida. Nenhum documento sobre os hotéis e sobre os guias. O funcionário da embaixada diz que é para eu não ficar preocupado. O pessoal dele vai me reconhecer por fotografia quando eu desembarcar. E a passagem de volta? Recebo outro “não se preocupe”. O engraçado nessa história é que eu tenho todos os motivos para me preocupar.
Finalmente embarco no avião russo, caindo aos pedaços, da Air Koryo. A viagem é curta, 1 hora e 40 minutos e, pela janela, a primeira visão que tenho da Coréia do Norte é a de um espaço desolador. As estradas chamam atenção pela ausência de veículos.Após o desembarque, quando todos pegaram suas malas e foram embora, me deixando completamente sozinho no aeroporto, e já na iminência de ser interpelado por um guarda, achei que não tinha sido uma idéia muito boa haver entrado naquele avião. Eu me encontrava na delicada posição de não haver contado toda a verdade sobre a minha identidade e, no feroz regime da Coréia do Norte, o sequestro, a tortura, a morte, ou o confinamento em campos de concentração são uma rotina. Neste estado paranóico, todo estrangeiro é um potencial agente da CIA planejando assassinar o líder. O governo norte-coreano já provou várias vezes não ter a menor preocupação sobre o que pensa o resto do mundo a respeito do seu comportamento delinquente. Protestos diplomáticos e apelos de organizações internacionais são sumariamente ignorados.
Para meu alívio, chegaram os guias, um homem e uma mulher bonita, muito sorridentes, provavelmente satisfeitos por haverem cumprido sua primeira tarefa, que é a de haver me deixado nervoso. É a técnica que usam. Tudo acontece no último momento, no limite. Nosso carro é um luxuoso Nissan 4×4, e parece que os guias estão impressionados por eu ter vindo sozinho, o que tornou a viagem muito mais cara. Estou sendo tratado como um VIP. Saímos do aeroporto em direção a Pyongyang, e nesses primeiros momentos recebo instruções sobre o comportamento de um turista: não posso ir a lugar nenhum sem que pelo menos um dos dois esteja comigo; só posso fotografar estando fora do carro e com a permissão deles; não posso me dirigir a ninguém na rua. As primeiras perguntas que me fazem, por mais comuns que sejam, sempre causam desconforto, porque estes não são guias comuns. Tenho que ser cauteloso com o que digo.
Vista parcial de Pyongyang
Enquanto vamos conversando, a caminho do hotel, os guias recebem o meu apoio incondicional para tudo que digam a respeito de assuntos políticos. Longe de mim cometer a insensatez de discordar. Eles não perdem tempo e expõem a tese que seria martelada incansavelmente durante toda minha viagem: a Coreia do Norte é uma democracia governada pelos trabalhadores, um país pacífico, que o imperialismo americano quer destruir. O ponto central de suas vidas é a espera da inevitável guerra onde derrotarão os Estados Unidos e o governo fantoche da Coreia do Sul, conseguindo desta maneira a reunificação das duas Coreias sob um governo comunista. Sentem-se ultrajados com o país dividido. Em tudo o que dizem conseguem colocar um parêntesis onde tecem louvores a Kim Il-sung, o Grande Líder, e antigo ditador, e ao seu filho Kim Jong-il, o Querido Lider, e atual ditador. É uma ladainha interminável e, nesses primeiros momentos, se não se prestar muita atenção fica-se perdido entre os dois nomes e tantos elogios qualificativos, tornando-se difícil descobrir de qual dos dois eles estão falando.
Hyangsan
Kim Il-sung foi o introdutor do comunismo na Coreia do Norte e ficou no poder desde 1948 até sua morte, em 1994. Quando Stalin caiu em desgraça na União Soviética, em 1956, sendo denunciado como criminoso, e suas estátuas foram destruídas em todo o mundo comunista, o ditador norte-coreano se recusou a aceitar os novos padrões ditados pelo governo soviético. O país continuou sua trajetória stalinista até os dias de hoje, transformando-se em um raríssimo anacronismo, fascinante para os scholars tal qual seria uma ilha de dinossauros para paleontólogos. Eu acredito que em pouco tempo este regime vai desaparecer, portanto não posso perder essa oportunidade única. É extraordinário poder voltar até os tempos da Rússia de Stalin, simplesmente pegando um avião, ao invés de uma máquina do tempo.
Fazenda coletiva
Além de ser O Grande Líder, Kim Il-sung também é conhecido como “O Sol Vermelho dos Povos Oprimidos”, “O Sempre Vitorioso Brilhante Comandante”, “O Sol da Humanidade”, “O Sol da Nação”. Depois de sua morte tornou-se “O Eterno Presidente”. Seu aniversário, em 15 de abril, é o dia de Natal da Coreia do Norte. Nos bottons, obrigatoriamente usados por todos os norte-coreanos que entram em contato com estrangeiros, é a sua cara que aparece, ao invés da bandeira nacional. A “Canção do General Kim Il-sung” é mais importante do que o hino nacional. Parece que esse personagem de realismo fantástico, embora morto, continua a gozar de boa saúde, porque ele assina os vistos norte-coreanos, isto é, seu nome está abaixo da linha onde alguém faz alguns rabiscos. Seu nome também está em muitos outros documentos, porque Kim Il-sung ainda é oficialmente o chefe de Estado da Coreia do Norte. Impossível esquecê-lo. Um homem que podia controlar o tempo, fazendo o sol brilhar, ou as chuvas chegarem. O governo da Coreia do Norte é também uma religião.
Mais uma fazenda coletiva: as bonitinhas podem ser fotografadas
Kim Jong-iL, o Querido Líder, está vivíssimo e, ao contrário do pai, que preferia se manter na obscuridade para o mundo exterior, tornou-se figurinha fácil no noticiário da televisão em virtude do programa nuclear norte-coreano. Ele também pode ser chamado de “O Grande General”, (muito usado pela minha guia), ou “Querido General”, “Centro do Partido”, “Respeitado Líder”, “Supremo Comandante”, “Pai do Povo”, “Extraordinário Estrategista Militar”, “Líder de Aço”, “Pai da Nação”, “Líder do Povo”, “Nosso Pai”, “Nosso General”, “Líder do Século Vinte e Um”, “Sol do Século Vinte e Um”, “Glorioso Sol do Século Vinte e Um”, e mais alguns outros nomes modestos. Para quem acha bizarro é bom lembrar que Stalin, reverenciado por famosos intelectuais de esquerda no Ocidente, também era chamado de “Farol da Humanidade”, “Pai”, “Paizinho”, “Professor”, “Grande Líder do Povo Soviético”, “Herdeiro da Causa de Lênin”, “Criador da Constituição de Stalin”, “Transformador da Natureza”, “Grande Timoneiro”, “Grande Estrategista da Revolução”, “Gênio da Humanidade”, o “Maior Gênio de Todos os Tempos e Povos”.
Quando o nosso carro passa ao lado de um grande arco do triunfo pergunto se posso fotografar. Claro que posso. É justamente o que esperam que eu faça. Belas fotos de tudo que tenha aparência de prosperidade. Enquanto caminho, procurando pelos melhores ângulos, não posso deixar de reparar que os guias se mantêm muito alertas, olhando para todos os lados. Eles me dizem, com razão, que o arco é ainda maior do que o de Paris, e que foi construído no lugar onde o Grande Líder fez o seu discurso quando a Coreia se libertou do domínio japonês, depois da Segunda Guerra Mundial.
Pyongyang é uma cidade bonita, com grandes praças, jardins, e alguns edifícios, que no conjunto dão uma forte impressão de monumentalidade. Essa arquitetura de imensos espaços tem a função de ser um palco para as paradas militares e demonstrações artísticas em homenagem a Kim Il-sung, e a Kim Jong-il. Exatamente como eu havia percebido pela janela do avião, são poucos os carros circulando, não existe nenhum comércio e o silêncio é perturbador. Ninguém fala em voz alta, mas, longe de ser educação, é medo.
Fico hospedado no Hotel Yanggakdo, o melhor de Pyongyang, que ostenta a cotação bastante generosa de ser um cinco estrelas. Os dois guias começam a se revezar, e apenas o rapaz me leva para jantar. (Vou chamá-lo de Kong, e a moça de Hona.) A escuridão nas ruas é completa. Se na capital é assim, é fácil imaginar o interior do país. Feéricamente iluminada está a imensa torre com sua tocha vermelha, símbolo da eternidade do Partido Comunista, construída em 1982, deliberadamente um metro maior do que o Monumento a Washington, e com 22 mil blocos de granito branco, cada um para o número de dias que o Grande Líder vivera até aquela data. Acho que é o momento certo para ensaiar uma conversa inocente sobre fontes de energia, e menciono a perigosa palavra nuclear. Kong não responde, ficou mudo, ainda não é hora para essas liberdades, e ele espera que eu entenda as regras do jogo e não faça nada que possa comprometê-lo. Após um breve constrangimento, o assunto já é a excelência do restaurante para onde estamos indo. O lugar é bem modesto, fuma-se muito, e as pessoas em outras mesas só olham para mim no momento em que entramos. Esta seria a única vez em que eu comeria em público. Durante toda a viagem eu ficaria sozinho em alguma sala, sendo servido com grande deferência e o elegante ritual que só se encontra no oriente. Neste momento outras pessoas também estão em nossa mesa, e se divertem me ensinando como pescar o ovo frito que consegue boiar em cima de alguma coisa que não consegui identificar. Provavelmente também eram guias, já que os norte-coreanos comuns são proibidos de se dirigirem aos estrangeiros.
No outro dia, no café da manhã, depois de me cumprimentar, Hona pergunta por que eu havia me levantado três vezes durante a noite. A esta crua declaração de que sou vigiado dentro do meu quarto, respondi, com uma naturalidade estudada, que sinto sede de noite. Não deixei de ficar com um pouco de vergonha porque teriam visto a minha mala abarrotada de biscoitos, maçãs, toddynhos, latas de atum, sardinhas, e cigarros ocidentais. Tudo isto por conta da recomendação da agência de turismo de Pequim, que por experiência sabe que muitos turistas rejeitam a comida norte-coreana. Os cigarros são para dar aos soldados na fronteira, em outra etapa da viagem.
Saímos do hotel e vamos para o belo parque Chilgol, onde está a réplica da choupana onde supostamente nasceu o Grande Líder. Um bando de escolares escuta suas professoras, visivelmente nervosas com a proximidade dos guias. Neste país todo mundo vigia todo mundo. Em seguida, caminhando para a Praça Kim Il-sung, eu posso ver ao longe uma menina que vem descendo a rua sozinha, e quando se aproxima é notável como está bem vestida. Chamaria atenção em qualquer lugar do mundo. Quando paramos para que eu a fotografasse, ela faz uma profunda reverência, graciosa, curiosamente séria. Depois segue seu caminho, no mesmo ritmo. Surpreso, pergunto para a guia o que ela estaria fazendo ali, tão pequena, sem ninguém ao lado. Recebo uma resposta sem sentido. Mais tarde, com a experiência que fui adquirindo, eu saberia que provavelmente foi plantada no meu caminho. É assim que funciona.
O Grande Líder construiu estátuas dele mesmo em todos os lugares da Coreia. A maior delas está em Pyongyang. São vinte metros de altura, feita de bronze e pintada de ouro. Cheguei perto do monstrengo e depositei flores. Afastei-me andando de costas, parei, curvei a cabeça em sinal de respeito, e, quase que militarmente, me virei, caminhando em direção à Hona, que me recebeu com um enorme sorriso. Eu sou o turista sonho dos guias. Dali mesmo, da praça Kim Il-sung, eu posso ver a Universidade Kim Il-sung e o Estádio Kim Il-sung. Nada de usar os nomes de Marx, Lênin ou Stalin. Vai tudo mesmo para o Sol Vermelho do Povo Oprimido.
Andando pelas margens do Daedong, o bonito rio que divide Pyongyang, fotografo alguns pescadores. Nenhum deles olha para mim. É o medo de cometer algum erro, que provavelmente nem sabem qual seria. Quando vejo uma velhinha andando em farrapos, a imagem do desamparo, não resisto à tentação e tiro a foto, fingindo não ouvir o grito de NO! dado por Kong, distante uns cinquenta metros. Ele grita outra vez, e eu faço um sinal de que não havia ouvido. Disfarço e vou em frente, fotografando outras coisas. Quando, afinal, nos encontramos, vejo que está sendo advertido por um homem saído do nada. Nem consigo ver o rosto do novo personagem e ele já foi embora. O guia está muito sério. Eu vou ter que lhe entregar o filme. Fico nervoso, não sei se o episódio vai terminar desta maneira tão simples, e além do mais ele já está no bolso, misturado com outros. Kong me diz que se a foto não estiver naquele que eu escolhi para lhe entregar vão me confiscar todos eles. O quê? Só isso? Até que está barato. Pensei que fossem me despachar para Pequim, ou ser interrogado. De tarde fico sabendo que dei sorte e acharam a foto da velhinha.
Agora vão me mostrar duas estações do metrô de Pyongyang que seriam verdadeiras obras de arte. As escadas rolantes não param de nos levar cada vez mais para o fundo da terra, fico impressionado, e o guia confirma, orgulhoso, que o metrô é também um abrigo nuclear com 100 metros de profundidade. Quando finalmente chegamos, eu posso ver que as estações são uma tentativa canhestra de repetir aquelas que foram construídas por Stalin, em Moscou, famosas pela beleza. Aqui é tudo feio, de mau gosto, kitsch. O Presidente Eterno não poderia faltar na decoração, e lá está ele, feito de pastilhas coloridas, caminhando junto com seu povo eufórico com tanta felicidade.
O erro desse programa foi entrarmos em um vagão para irmos de uma estação para outra. Pude ver as pessoas, amontoadas, encolhidas, muito magras, as roupas escuras, os rostos com expressão de medo, os olhos voltados para o chão. Os zumbis norte-coreanos. Fico chocado com a cena e espantado com a insensibilidade de Kong. Ele continua rindo e conversando comigo, não se dando conta de que era exatamente a imagem que não poderia ser mostrada.
No imenso Palácio para Estudantes e Crianças de Pyongyang, sou levado para ver meninas que estudam música, ballet, acrobacia, bordado. Todas com um sorriso tão ensaiado que vai se tornando alguma coisa insuportável, na medida em que as portas das salas de aula vão sendo abertas. Mas, o que é perversidade, e eu custei um pouco a perceber, é que as suas faces não expressam simplesmente uma gentileza forçada para o visitante que chega. Isso é comum, nós conhecemos. O que acontece é que as meninas fingem que não me viram entrar. Os sorrisos significam que elas estão em permanente estado de graça e nem percebem quando a porta é aberta e alguém começa a rodopiar pela sala, com uma câmera enorme. Não há como evitar o sentimento de vergonha por estar sendo instrumento de uma farsa, desta vez envolvendo as pobres crianças.
No auditório assistimos a um espetáculo com a fina flor dos estudantes. Até que é bom, mas os onipresentes, Grande Líder e Querido Líder, não param de mostrar suas caras em slides projetados no fundo e dos lados do palco. A guia me explica que as canções são apologias sobre o Grande Líder e aproveita para perguntar se estou percebendo como as crianças estão alegres. Claro que estou. Todas elas estão com a famosa felicidade dos que vivem no paraíso norte-coreano.
Na platéia, um grupo chama a atenção. São dezenas de meninos, entre seus dez e 13 anos de idade, uniformizados, cabeças raspadas, maneiras arrogantes, expressão debochada. Olham para mim de alto a baixo, com a maior segurança. São os pequenos guerreiros, cadetes da escola militar. A elite da elite. Em toda a viagem foi o momento de maior orgulho de minha guia. Ela aponta para os garotos e me diz que os americanos e os sul-coreanos têm medo deles. Concordo, desta vez com toda sinceridade.
O exército norte-coreano é o quinto do mundo. Mais de um milhão de soldados estão em pé de guerra, e mais de seis milhões podem ser convocados imediatamente. O serviço militar obrigatório é de dez anos para o homem e de sete anos para a mulher. O regime gasta mais de cinco bilhões de dólares por ano na sua defesa, incríveis 32% do PIB. Um pequeno país de 23 milhões de habitantes que é o mais militarizado do mundo.
Agora vamos para Myohyang, região de montanhas. O jipe desliza veloz pela estrada, sempre deserta. À medida que vamos subindo, cresce o humor dentro do carro e Kong inicia uma sessão de piadas. Logo elas se tornam pesadas, e depois da tradução até o chofer está rindo. Nesse momento a moça diz que eu sou muito inteligente para ser um turista. Finjo que não prestei atenção, continuo brincando, mas não gostei nada. O que ela quis dizer com isso? Que os turistas são burros, ou que eu não sou turista? Desde o início da viagem essa fanática está tentando me pegar em alguma contradição. Que os dois são diferentes, eu não tenho dúvida. Ela é muito mais aplicada no seu papel de espiã. O rapaz me parece mais seguro, e houve um dia em que simplesmente me contou que estava tranquilo porque eu havia sido investigado. Ótimo.
Chegamos ao templo budista Pohyon, onde querem me mostrar que existe liberdade de religião. Lá está o monge de plantão fingindo que é feliz. É patético vê-lo juntando as mãos enquanto se curva para mim. Neste lugar, o enredo é mal elaborado, não engana ninguém, e eu acho que não é à toa que, nas coisas mais ridículas, Kong caia fora e deixe a tarefa para Hona. Depois de também cumprir o meu papel, começo a fotografar os belos jardins do templo, mas a minha Querida Guia resolve me dizer que tudo o que estou vendo foi bombardeado pelos americanos na guerra da Coréia, em 1951. Faz um pequeno discurso sobre a maldade do inimigo e a coragem dos norte-coreanos. A mocinha é realmente beligerante.
A próxima etapa é uma visita ao Palácio da Exibição da Amizade Internacional. Desta vez sou recebido por uma mulher linda, vestida com um luxuoso traje típico norte-coreano. É uma pena que esteja desperdiçada aqui, neste fim do mundo. Deixo de olhar para ela e quase caio de costas quando se abre uma porta e vejo nada mais, nada menos, do que o Querido Líder! Sim, lá está ele, altíssimo, sentado em um trono, do mesmo jeito que um faraó, uma estátua enorme, todo o ambiente decorado em rosa-choque, azul-bebê, e outras cores berrantes em papel crepom vermelho. Um delírio kitsch. O grotesco absoluto. A loucura total. É um choque difícil de ser controlado. Em qualquer lugar do mundo saberiam que é espanto, e não admiração, mas aqui, eu só vejo orgulho nos olhos das duas mulheres que me observam. Isto é muito mais do que qualquer coisa que Stalin, O Farol da Humanidade, possa ter imaginado, porque embora tenha criado o “culto da personalidade”, ele tinha senso do ridículo, e não fez os russos pensarem que era um deus. Se eu fosse escolher só uma coisa para dizer o que é a Coreia do Norte, seria esta sala. Fico imaginando o comportamento dos verdadeiros turistas que passam por este teste de autocontrole. Fingindo respeito pelo lugar, apenas sussurro para elas que estou muito impressionado. Outra porta se abre, e desta vez é o Grande Líder, de pé, cercado de flores, um céu muito azul por cima de sua cabeça, uma paisagem bucólica, uma estátua de cera feita pelos chineses. É muito menor do que a outra, perde longe para seu filho, o “Grande General”, e por não ser mais surpresa não tem graça.
O Palácio da Exibição Internacional da Amizade foi construído para mostrar aos presentes que o Grande Líder e o Querido Líder ganharam de outros países. São longos corredores só de tapetes, quadros, jóias, vasos, esculturas, e peças típicas de cada lugar. Começo vendo os do Grande Líder. Com exceção dos que vieram da China e Rússia, é difícil encontrar alguma coisa que tenha a qualidade que se espera para que sejam oferecidas a um chefe de estado. Na verdade é um monte de quinquilharias empilhadas nas vitrines, e parece que ninguém levou a sério esse negócio de presentear ditadores malucos escondidos em um país que pertence a outra galáxia. Provavelmente a maioria dessas coisas jamais veio de lugar algum, muitos nomes de países estão escritos de maneira errada e o mais provável é que tenham sido fabricados na Coréia mesmo. Enquanto vamos andando, a guia me diz que de seis em seis meses todos os presentes são trocados, e se eu ficasse um minuto admirando cada um, iria levar um ano e meio para terminar. É uma ótima desculpa para acelerar o passo e acabar logo com isso. Infelizmente me esqueci de perguntar pelo presente brasileiro. Será que existe alguma estátua do Pelé, perdida no meio da bagunça?
Em outra ala do palácio estão os presentes do “Líder do Século Vinte e Um”. A mesma coisa, só que a qualidade baixou ainda mais. Para bajular e conseguir favores é possível ver tanto um feiíssimo carro de luxo, oferecido pela Hyunday, quanto um inacreditável micro-ondas! A visita aos presentes terminou, e com notável ingenuidade a moça me pergunta se eu conheço outro lugar com coisas tão lindas. Meio sem jeito digo que, talvez, o Vaticano. Afinal, não posso ficar concordando com tudo. Antes de qualquer outro comentário, a luz se apaga. A escuridão é absoluta, porque não existem janelas. Fico paralisado, elas trocam algumas palavras e de repente sinto o levíssimo toque das suas mãos nas minhas, e assim vão me levando, bem devagar, com enorme delicadeza, até a saída. Um comportamento tão feminino só mesmo no Oriente.
Entro no carro e vou logo dizendo o quanto a mulher era bonita. A guia pergunta, um pouquinho depressa demais, um pouquinho alto demais, porque eu não disse isto para ela, já que era assim tão maravilhosa. Uma pequena cena de ciúmes no coração das trevas.
Deixamos Moyang e vamos em direção à cidade de Kaesong, que está na fronteira com a Coreia do Sul. Uma viagem agradável, por uma autoestrada excelente e… deserta. Os guias estão cada vez mais descontraídos, sem ter ninguém para vigiá-los. O rapaz já esteve na Alemanha. Fico surpreso. Será que não percebeu a diferença do mundo exterior? Faço uma ou outra pergunta que não pareçam comparações desvantajosas para a Coreia, mas ele jamais irá se expor em frente à moça. E quem garante que o chofer não fala inglês? No entanto, com o tempo, já no fim da minha viagem, percebi que os guias também não têm a idéia geral do que seja a Coreia do Norte. Sabem que não é o que me estão contando, sabem que estão escondendo muita coisa, mas não chegaram ao conjunto. Jamais acreditariam que eles próprios são parte de uma mentira de proporções astronômicas. Os norte-coreanos há décadas estão submetidos a uma inacreditável lavagem cerebral que faz com que acreditem que suas vidas estão para todo o sempre ligadas aos Queridos Demônios. Tudo é impossível sem eles. São obrigados a ter o retrato dos dois, pendurados na parede de suas casas. Passam toda sua existência ouvindo hinos de louvores a Kim Il-sung, hinos que os acompanham nas ruas, nas estações de trem, no trabalho, e quando vão dormir. Estudam os seus sábios pensamentos, aprendem que Ele os amou, que Ele é a própria Coreia do Norte, onde as pessoas serão ainda mais felizes, apesar de já estarem no “paraíso dos trabalhadores”, que Ele construiu.
Por viverem ferreamente enclausurados em suas fronteiras, os norte-coreanos não têm a mínima ideia do que seja o mundo exterior. Pensam que Kim Il-sung, quando estava vivo, era o homem mais famoso do mundo. Desconhecem qualquer personalidade ocidental, e jamais acreditariam que um americano pisou na lua. Também não sabem o que está acontecendo em seu próprio país, já que são impedidos de viajar de um lado para o outro. Não têm ídolos comuns como estrelas de cinema, cantores, personalidades de TV, atletas, músicos, escritores, políticos. Nos filmes da TV não aparecem os nomes dos atores, diretores, nenhum crédito. Mas, uma coisa todos os norte-coreanos sabem, e têm medo: o gulag. O serviço secreto da Coreia do Sul estimou que em 1999 havia duzentos mil prisioneiros nos 10 terríveis campos de concentração espalhados por remotas regiões do país.
A vida é a sobrevivência do dia a dia. Estima-se que, em 1998, três milhões de pessoas morreram de fome. Uma criança norte-coreana de sete anos de idade é vinte centímetros menor e dez quilos mais magra do que seu correspondente na Coreia do Sul. Já foi dito que o Querido Líder é o único gordo da Coreia do Norte. Centenas de milhares de norte-coreanos correndo o risco de prisão, ou mesmo de perder suas vidas, tentam atravessar a fronteira com a China. Infelizmente, para eles, as autoridades chinesas prezam mais suas boas relações com o governo da Coreia do Norte do que suas obrigações com a Convenção das Nações Unidas para Refugiados e entregam os fugitivos à polícia norte-coreana, o que representa condená-los a um longo encarceramento. Se houver uma segunda tentativa, a punição é a prisão perpétua ou a execução, que é estendida para os que tentarem o asilo político, entrarem em contato com sul-coreanos, com missionários estrangeiros, com agentes de ajuda humanitária, com jornalistas, ou tiverem relações sexuais com estrangeiros.
Os dias de minha viagem se passaram como se eu estivesse em outro mundo, alguma coisa irreal. É horrível ver as pessoas andando devagar pelas ruas, cabisbaixas, tão magras, silenciosas, a tristeza visível em seus poucos gestos. Não é somente uma população de escravos, mas de mortos vivos. Em seus cérebros esvaziados de qualquer motivação, a existência está ligada para todo o sempre aos dois Kim, os arquitetos dessa maldade infernal.
Em Kaesong, uma cidade sombria, vejo o túmulo do rei Kongmin e outros sítios arqueológicos sem nenhum interesse, mas a 8km de distância está realmente um lugar muito importante, Panmunjom, onde, em 1953, o armistício – não a paz – foi assinado entre as duas Coreias. Todas as casas de madeira que serviram para as conferências entre americanos e sul-coreanos, de um lado, e chineses e norte-coreanos, do outro, estão dentro da Coreia do Norte, e posso visitá-las, sentar-me nas cadeiras históricas, e divertir-me com o grande número de turistas chineses, que me requisitam todo o tempo para tirar fotos em que apertamos as mãos, cada um de um lado da mesa, eu fazendo o papel dos americanos, já que sou o único ocidental.
Com a advertência para ficarmos sempre juntos, fomos levados para ver a “terra de ninguém”, ou DMZ (Zona Desmilitarizada): uma estreita faixa de uns trinta metros, que separa as duas Coreias. Aqui, neste lugar carregado de eletricidade e ódio, os soldados dos dois países montam guarda, andando em alguns quadrados de cores diferentes, tão perto uns dos outros que, se estendessem os braços, poderiam se tocar. Os coreanos do norte com seus uniformes cor cáqui, modelos da década de cinquenta, figuras esqueléticas, um pouco de miséria em seus rostos, e os sul-coreanos completamente americanizados, de capacetes e óculos ray-ban. Existe um enorme cuidado para que não se quebre o delicado equilíbrio entre eles. Os soldados são substituídos a pequenos intervalos, para que não se cansem e cometam algum erro. Caminhando com os olhos no visor da câmera, sem querer coloquei um pé na faixa branca, início da “terra de ninguém” do lado norte-coreano. Foi uma gritaria pânica, onde se uniram guias, soldados, turistas. Comecei a pedir tantas desculpas que só faltei me dirigir também aos coreanos do sul, agitadíssimos, olhando para nós, sem saber o que acontecera. O soldado guia, a quem estavam destinados os cigarros que eu trouxera, e que esqueci no hotel, veio para o meu lado e disse que algum tempo atrás um inglês também se distraíra e quase havia entrado na Coreia do Sul, sendo fuzilado antes disso. Sim senhor, muita amabilidade sua me avisar.
De volta ao centro de Pyongyang, a intimidade com os guias alcança o seu nível mais alto. Eu sempre quis fotografar a guardinha de trânsito, muito bem fardada em azul, usando um bastãozinho com tanta energia que até parece que existe tráfego. Agora, quando passamos outra vez pelo mesmo lugar, o rapaz manda o chofer parar o carro e, bem malicioso, diz que posso descer e tirar minhas fotos. Respondo que não me interessa, porque de uma hora para outra pode sair alguém de trás do poste e me confiscar o filme. Os dois explodem em gargalhadas.
Agora virou galhofa, e por isso mesmo um pouco mais tarde, eu me vejo conversando sobre o que não devo. Estou sozinho com Hona, e ela quer saber o que as pessoas do lado de fora pensam sobre seu país. A mocinha parece tão frágil que eu tenho um ataque de meia sinceridade e vou respondendo que os norte-coreanos estão muito isolados, que infelizmente o comunismo acabou em quase todo o mundo, falo no Vietnam, China, Rússia, e digo que a reunificação da maneira que imaginam é difícil. Ela vai ouvindo e concordando com a cabeça. Para minha sorte foi chamada por alguém, e sai por um instante, tempo suficiente para que eu me dê conta da bobagem que estava fazendo. Quando ela volta, já sou outro, e começo com um lengalenga propositadamente confuso, e não adianta forçar nada porque só falta eu perguntar onde está a estátua mais próxima do Grande Líder, acometidokque sou de um irresistível desejo de colocar mais flores aos seus pés.
Eu e minha Querida Guia
Sou levado para ver o “USS Pueblo”, que foi trazido do porto de Wonsan para o rio Daedong, em Pyongyang. Este é um grande troféu de guerra. O Pueblo era um navio espião americano que foi aprendido pelos norte-coreanos em 1968, provavelmente em águas internacionais. O capitão do barco, após a ameaça de que todos os 83 membros da tripulação seriam mortos, a partir do mais moço, até chegar a ele próprio, assinou uma confissão dizendo que estava espionando os norte-coreanos. Foi um episódio que provocou uma grande crise internacional durante a Guerra Fria, e provocou um enorme desgaste na imagem dos Estados Unidos.
Sou apresentado ao marinheiro que primeiro colocou os pés no navio, após uma rápida batalha. Agora ele é o “capitão” do Pueblo e, todo elétrico, mostra os buracos feitos pelas balas de metralhadoras e canhões dos navios norte-coreanos. Enquanto vamos andando pelos corredores apertados, subindo e descendo escadas, o herói começa a me contar muitas histórias, onde exalta a coragem dos seus antigos companheiros e ri da covardia dos americanos. O clímax é quando ele mesmo deu um chute no traseiro do capitão Bucher que tentava se esconder debaixo de uma mesa. Aprovo tudo que está me dizendo, mas a cena é mesmo de comédia pastelão misturada com uma infantilidade sinistra, porque além do absurdo do capitão tentando fugir, a mesa é ridiculamente pequena. Olho em volta, mas o guia já se mandou. Ele é muito esperto. Definitivamente não quer se envergonhar na minha frente. Preferiu me esperar do lado de fora do navio para os seus comentários políticos. Kong me diz que os russos fizeram enorme pressão para que a tripulação do Pueblo fosse logo libertada, e que o embaixador soviético em Pyongyang chegou a ameaçar o governo do Grande Líder com retaliações econômicas e políticas. Mesmo assim, Ele não cedeu; impossível imaginar que Ele fizesse isso. Os russos poderiam ficar com medo dos Estados Unidos, mas jamais a Coreia do Norte. Aponta para o Pueblo, que é a prova incontestável do que diz: emoldurada em uma das salas do navio está a cópia da humilhante confissão do capitão Bucher. (O pobre Bucher, quando chegou aos Estados Unidos, foi muito mal recebido e forçado a se aposentar).
Peço para ser fotografado apertando a mão do folclórico capitão, que está satisfeitíssimo por ter saído da chatice de ficar naquele navio o dia inteiro, sem ninguém para contar as suas histórias extraordinárias.
Já está chegando a hora do meu embarque e nada de aparecer o ticket da Air Koryo.
O guia me diz que está fazendo um grande esforço, parece que o avião está lotado, mas ele tem um amigo que talvez possa resolver o problema. Bem, essa história eu já conheço. Afinal o amigo conseguiu a passagem, mas infelizmente teve muitas despesas e ela… ficou mais cara. Novamente fico impressionado. Um regime de ferro, e as pessoas se arriscam de qualquer maneira.
No aeroporto os guias estão satisfeitos. Parece que realmente gostaram de mim, e além do mais, dei uma gorjeta alta para os dois. Muitos abraços e beijos. Perto estão alguns militares e um deles chama a atenção pelo monte de estrelas que tem no ombro. Pergunto se é um general. O rapaz responde baixinho que não pode falar sobre isto. Tomo a sinceridade da declaração como uma prova de amizade, novas despedidas e vou para a sala de espera do aeroporto, onde encontro um brasileiro, funcionário da FAO, que veio para um programa de ajuda à Coreia. Está muito desanimado porque, devido ao atraso norte-coreano, a tecnologia que trouxe não pode ser aplicada. Trocamos impressões da viagem, e ele me conta que, passeando em Pyongyang, ficou muito distante do guia, o que lhe valeu uma reprimenda surpreendente: “Se o senhor for sequestrado a culpa não é minha”. Mas que hospício mais barra pesada!
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