Política Prudencial x Política Ideológica, por Russell Kirk
Algumas páginas atrás, especifiquei três erros profundos do político ideológico. Agora, contrasto-os com certos princípios da política da prudência:
1. Como eu disse antes, ideologia é religião invertida. Mas o político prudencial sabe que “utopia” significa “lugar nenhum”; que não podemos marchar para um Sião terrestre; que a natureza humana e as instituições humanas são imperfeitas; que a “justiça” agressiva na política termina em massacre. A religião verdadeira é uma disciplina para a alma, não para o Estado.
2. A ideologia torna o compromisso político impossível, como indiquei. O político prudencial, au contraire, está bem ciente de que o propósito primordial do Estado é manter a paz. Isso só pode ser alcançado mantendo-se um equilíbrio tolerável entre os grandes interesses da sociedade. Partidos, interesses, grupos e classes sociais devem chegar a compromissos, caso queiram manter as facas longe dos pescoços. Quando o fanatismo ideológico rejeita qualquer compromisso, os fracos vão para o paredão. As atrocidades ideológicas do “Terceiro Mundo” nas últimas décadas ilustram esse ponto: os massacres políticos do Congo, Timor, Guiné Equatorial, Chade, Camboja, Uganda, Iêmen, Salvador, Afeganistão e Somália. Políticas prudenciais esforçam-se por conciliação, não por extermínio.
3. Ideologias são atormentadas por um facciosismo feroz, pelo princípio da fraternidade – ou morte. Revoluções devoram seus filhos. Mas os políticos prudentes, rejeitando a ilusão de uma Verdade Política Absoluta diante da qual todo cidadão deve se curvar, entendem que as estruturas políticas e econômicas não são meros produtos de uma teoria, a serem erguidas num dia e demolidas em outro; pelo contrário, as instituições sociais se desenvolvem ao longo dos séculos, como se fossem orgânicas. O radical reformista, proclamando-se onisciente, derruba todos os rivais para chegar mais rapidamente ao Paraíso Terrestre. Conservadores, em nítido contraste, têm o hábito de almoçar com a oposição.
Na sentença anterior, empreguei deliberadamente a palavra conservador como sinônimo, virtualmente, da expressão “político prudencial”. Pois é o líder conservador que, virando seu rosto contra todas as ideologias, é guiado pelo que Patrick Henry chamou de "o lampião da experiência". Neste século XX, tem sido o corpo de opinião geralmente chamado de "conservador" que defendeu as Coisas Permanentes das agressões dos ideólogos.
Russell Kirk, "Os Erros da Ideologia", em A Política da Prudência
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