sexta-feira, 3 de maio de 2019

Morre Oto Habsburgo, herdeiro austro-húngaro

Morre Otto Von Habsburg, herdeiro do último imperador da Áustria

VIENA — Otto Von Habsburg, falecido nesta segunda-feira aos 98 anos, renunciou ao seu título como sucessor de Carlos I, último e efêmero imperador da Áustria-Hungria, para ser um europeísta, defensor dos países do Leste Europeu, sob o comunismo e também quando estes entraram na União Europeia.

Otto Von Habsburg-Lorraine, nascido em 1912, estava destinado a subir ao trono, mas a dissolução do Império Austro-Húngaro em 1919 transformou seu destino e o levou a viver no exílio.

Depois que a família imperial foi expulsa da Áustria e após perder seu pai em 1922, o jovem Otto estudou na Espanha e deu prosseguimento a sua vida escolar na Bélgica.

Voltou a sua pátria durante a ditadura "austro-fascista" de Kurt Schuschnigg, mas foi expulso novamente quando a Áustria foi anexada pela Alemanha em 1938 (Anschluss).

Sem esconder sua oposição a Hitler, o herdeiro imperial esperava conseguir restaurar a monarquia.

Refugiado nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, fez campanha com o presidente americano Franklin Delano Roosevelt e com o primeiro-ministro britânico Winston Churchill para restabelecer a independência da Áustria, questão que em 1943 foi incluída entre os objetivos de guerra dos aliados.

Mas, uma vez terminada a guerra, o novo poder em Viena, em particular os social-democratas, opôs-se ao retorno do aristocrata exilado.

Católico e anticomunista declarado, a ponto de se vincular ao regime do ditador espanhol Francisco Franco, -algo que reforçou a oposição da esquerda austríaca contra ele- Otto Von Habsburg viu no Cristianismo um valor capaz de unificar a Europa dividida entre o Leste e o Oeste, e se baseou nesse pensamento para fazer campanha.

Com sua plataforma cristã, tornou-se presidente da União Pan-Europeia (1973-2004) e, depois, foi eurodeputado pelo Partido Social-Cristão (CSU) durante duas décadas (1979-1999).

Em 1989, foi um dos promotores do "Pic-nic Pan-Europeu" na fronteira austro-húngara, permitindo que mais de 600 alemães do Leste passassem para o Oeste.

Poliglota - falava alemão, húngaro, espanhol, inglês, francês e croata- Otto Von Habsburg foi desde 1989 um defensor fervoroso da inclusão dos países da Leste Europeu na União Europeia.

Vivendo na Baviera a partir dos anos 1950, Otto Von Habsburg foi autorizado a voltar a seu país natal em 1966 depois de cinco anos de controvérsia. O herdeiro imperial teve antes que jurar fidelidade à República Austríaca.

No entanto, mobilizados pelos sindicatos, 250.000 trabalhadores protestaram contra a sua primeira viagem à Áustria, em novembro de 1966.

A paz com a esquerda austríaca foi selada em 1972 com um aperto de mãos histórico com o chanceler social-democrata Bruno Kreisky.

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Foto da coroação de Carlos IV e Zita Bourbon-Parma como Rei e Rainha da Hungria, junto de seu filho Oto [31/12/1916].

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Otto von Habsburg... Franz Josef Otto Robert Maria Anton Karl Max Heinrich Sixtus Xaver Felix Renatus Ludwig Gaetano Pius Ignazius von Habsburg-Lotharingen.

Uma nota sobre este homem e sua herança é irresistível. Dr. von Habsburg nasceu em novembro de 1912 e, se houvesse sucedido a qualquer um de seus numerosos títulos hereditários, teria sido de longe o soberano de reinado mais longo, não só nos tempos modernos, mas em toda história européia. Seu pai morreu em 1.º de abril de 1922, o que daria-lhe um reinado de 91 anos. Luís XIV da França, seu rival mais próximo, reinou por 72 anos.

Como herdeiro não só do Império Austro-Húngaro, mas também da herança dos Habusburgos austríacos, Dr. von Habsburg acumulou um enorme número de dignidades e títulos -- uma simples observação do estilo oficial usado no final do Século XIX pelos imperadores austríacos é como uma chamada de toda civilização européia.

Pela Graça de Deus, Imperador da Áustria, Rei Apostólico da Hungria, Rei da Boêmia, da Dalmácia, Croácia, Eslavônia, Galícia, Lodoméria e da Ilíria; Rei de Jerusalém e Príncipe de Acre; Arquiduque da Áustria, Grão-Duque da Toscana e Cracóvia; Duque de Lorena, de Salzburgo da Estíria, Caríntia, Carníola e a Bucovina; Grão-Príncipe da Transilvânia; Margrave da Morávia; Duque da Alta e Baixa Silésia, de Módena, Parma e Guastalla, de Auschwitz e Zator, de Teschen, Friuli, Ragusa, e Zara; Conde de Habsburgo e Tirol, de Kyrburgo, Gorizia e Gradisca; Príncipe de Trento e Brixen; Margrave da Alta e Baixa Lusácia, e na Ístria; Conde de Hohenems, Feldkirch, Bregenz, Sonnenberg; Senhor de Tettnang e Argen; Senhor de Trieste, de Catarro e da Marca Vêneda; Grão-Voivode da Sérvia.

Porém isso não é tudo -- por sua linhagem Habsburga, ele poderia pretender o ducado e o condado da Borgonha, os ducados de Brabant, Gerland, Limburgo e Luxemburgo; os margraviatos de Namur e da Antuérpia; os condados de Arlon, Flandres, Hainault, Holanda e Zelânia e Valenciennes; os senhorios de Malines e Tournai; o ducado de Bar; o reino da Lombardia-Venécia, os ducados de Milão e Mântua, o margraviato de Montferrat e os reinos de Nápoles e Sicília. Ele também é figura-chave como herdeiro do Sacro Império Romano Germânico, e, numa das ironias supremas da História, também do Império Bizantino. E, se ainda não fosse suficiente, nota-se que, com a herança de Montferrat-Gonzaga, ele também seria descendente dos herdeiros do título de Rei da "România" ou Tessália, o senhorio latino estabelecido em 1204 e suzerano putativo de todos os vários pequenos senhorios franceses, italianos e espanhóis existentes na Grécia durante os Séculos XIII a XV. O mesmo ocorre como descendente do reino espanhol de Mallorca e o condado francês de Roussillon. E continua... há estudos que ligam o arquiduque à herança dos monarcas anglo-saxões que governaram a Inglaterra antes da invasão normanda de 1066.

Fonte: Bruce R. Gordon, Regnal Chronologies.

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