Augusto de Franco
(03/11/07)
É necessário ler os textos básicos: os clássicos, com certeza, mas também alguma coisa contemporânea. O que não se pode fazer é trocar a leitura dos textos (fontes) pela leitura do que disseram sobre esses textos. Ao contrário do que se pratica nas academias, vá primeiro beber direto na fonte e depois faça o que quiser (ou puder).
Para fazer um curso teórico de política, do ponto de vista de quem está interessado na democracia, é necessário ler os textos básicos: os clássicos, com certeza, mas também alguma coisa contemporânea. Tal lista, se for relativamente completa, dá mais ou menos uns 200 textos. Proponho aqui uma lista de 160 textos.
Para quem está interessado na política democrática, imagino que seja melhor fazer um esforço autodidático para ler os textos do que se matricular em um curso superior de política e ficar assistindo aulas de professores que reproduzem as modas da época, indicam bibliografias (em geral fotocópias de partes de textos clássicos, resenhas e análises que interessam mais aos trabalhos acadêmicos que estão fazendo no momento do que ao aluno) e que, via de regra, não leram, eles próprios, a maioria dos textos básicos.
Ler 160 textos, a primeira vista, parece uma tarefa impossível, mas não é. Lendo 3 textos por mês, isso dá mais ou menos 54 meses; ou seja, quatro anos e meio (um tempo menor do que se gasta para fazer uma graduação seguida de mestrado).
É evidente que não basta ler os textos indicados na lista abaixo. O estudante deve procurar se informar sobre o autor e sobre as circunstâncias em que produziu sua obra. Deve ler pelo menos um ou dois artigos de especialistas contextualizando a obra. O que não se pode fazer é trocar a leitura dos textos (fontes) pela leitura do que disseram sobre esses textos. Ao contrário do que se pratica nas academias, vá primeiro beber direto na fonte e depois faça o que quiser (ou puder).
Aulas não servem para muita coisa. Se houver um grupo de meia dúzia a uma dúzia de estudantes e esse grupo puder organizar um seminário de dez em dez dias sobre cada um dos textos, será o ideal. Leitura individual (2 a 3 horas por dia), três discussões (de 6 horas cada, por mês) e pronto. Ou quase.
Por último, é bom que o estudante escreva um pequeno artigo (de, no máximo, uns 5 mil caracteres, pois a capacidade de síntese é um dos indicadores de compreensão) sobre o texto que leu. Não é para resumir, resenhar, “fichar” ou copiar (ou repetir com outras palavras) o que disseram o autor ou seus comentadores e críticos. É para descobrir coisas novas, formar uma opinião própria que tente acrescentar alguma coisa ao que já foi dito.
A rigor nenhum conhecimento pode ser transferido. O conhecimento é sempre criado e recriado ou reconstruído; de certo modo, inventado. Quem não inventa nada, não aprende nada.
I – A LISTA INTEIRA
Eis então a lista inteira (com 160 textos, mas não completa), organizada em ordem cronológica:
604 (c.) “Tao-te King” de Lao Tzu
500 (c.) Sun Tzu:“A Arte da Guerra”
490 Confúcio: “Os Analectos”
472 Ésquilo: “Os Persas”
422 Eurípedes: “As Suplicantes”
427-347 Platão: “A República”
427-347 Platão: “O Político”
427-347 Platão: “As Leis”
383-322 Aristóteles: “A Política”
383-322 Aristóteles: “A Constituição de Atenas”
280-234 Han Fei Zi: “A Arte da Política (Os homens e a lei)”
106-43 Cícero: “Da República”
106-43 Cícero: “Das Leis”
106-43 Cícero: “Dos Deveres”
1225-1274 Tomás de Aquino: “Do Governo dos Príncipes”
1312 Dante Alighieri: “Da Monarquia”
1324 Marcílio de Pádua: “Defensor da paz”
1513 Maquiavel: “O Príncipe”
1516 Thomas Morus: “A Utopia”
1519 Maquiavel: “Discursos sobre a primeira década de Tito Livio”
1548 La Boétie: “Discurso da servidão voluntária”
1576 Francesco Guicciardini: “Recordações Políticas e Civis”
1576 Jean Bodin: “Os Seis Livros do Estado (ou da República)”
1589 Giovanni Botero: “A Razão de Estado”
1602 Tommaso Campanella: “A Cidade do Sol”
1603 Althusius: “Política”
1625 Grotius: “Direito da Guerra e da Paz”
1632-1639 (c.) Richelieu: “Testamento político”
1642 Hobbes: “Do Cidadão”
1647 Baltazar Gracián :“A Arte da Prudência”
1651 Hobbes: “Leviatã”
1670 Spinoza: “Tratado Teológico-Político”
1677 Spinoza: “Tratado Político”
1683 Cardeal Mazarin: “Breviário dos Políticos”
1688 Leibniz: “Elementos do Direito Natural”
1690 Locke: “Dois Tratados sobre o Governo”
1716 François de Callières: “Como negociar com Príncipes”
1748 Hume: “Investigação sobre o Entendimento Humano”
1749 Montesquieu: “O Espírito das Leis”
1754 Rousseau: “Discurso sobre a origem da desigualdade dos homens”
1762 Rousseau: “O contrato social”
1764 Beccaria: “Dos Delitos e das Penas”
1776 Thomas Jefferson:“Declaração de Independência dos Estados Unidos da América”
1787-1788 “Publios” (Alexander Hamilton, John Jay e James Madison): “O Federalista” (em especial Madison (1987) em um comentário sobre a Constituição dos Estados Unidos)
1789 “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”
1789 Bentham: “Introdução aos princípios da moral e da legislação”
1789 Sieyès: “O que é o Terceiro Estado”
1790 Burke: “Reflexões sobre a Revolução Francesa”
1791 Thomas Paine: “Direitos do Homem”
1792 von Humbolt: “Ensaio sobre os limites da atividade do Estado”
1795 Kant: “A paz perpétua”
1797 Kant: “Metafísica dos Costumes”
1808 Ficht: “Discursos à Nação Alemã”
1815 Benjamin Constant: “Princípios da política”
1816 Bentham: “Sofismas Políticos”
1819 Benjamin Constant: “Discurso sobre a Liberdade dos Antigos Comparada com a dos Modernos”
1821 Hegel: “Princípios de Filosofia do Direito”
1832 Carl von Clausewitz: “Da Guerra”
1835 Tocqueville: “A Democracia na América”
1840 Proudhon: “O que é a Propriedade”
1843 Marx: “A questão judaica”
1843 Marx: “Crítica da filosofia hegeliana do direito”
1849 Thoreau: “Desobediência Civil”
1856 Tocqueville: “O Antigo Regime e a Revolução”
1859 Stuart Mill: “Sobre a Liberdade”
1861 Stuart Mill: “Sobre o Governo Representativo”
1896 Mosca: “Elementos de Ciência Política”
1908 Sorel: “Reflexões sobre a Violência”
1909 Croce: “Filosofia da Prática”
1911 Michels: “Os partidos políticos: ensaios sobre as tendências oligárquicas das democracias”
1916 Gentile: “Fundamentos da Filosofia do Direito”
1919 Pareto: “As Transformações da Democracia”
1922 Weber: “Economia e Sociedade”
1927 Dewey: “O Público e seus Problemas”
1929 Dewey: “Velho e novo individualismo”
1932 Carl Schmitt: “O Conceito do Político”
1935 Dewey: “Liberalismo e ação social”
1937 Dewey: “A democracia é radical”
1937 Horkheimer: “Teoria tradicional e teoria crítica”
1939 Dewey: “Democracia criativa: a tarefa que temos pela frente”
1942 Horkheimer: “O Estado autoritário”
1942 Schumpeter: “Capitalismo, socialismo e democracia”
1944 Hayek: “O caminho da servidão”
1944 Polanyi: “A Grande Transformação”
1945 Kelsen: “Teoria geral do Direito e do Estado”
1947 Gramsci: “Cadernos do Cárcere”
1950 (c.) Hannah Arendt: “O que é a política?”
1951 Hannah Arendt: “As Origens do Totalitarismo”
1954 Hannah Arendt: “Que é liberdade”
1955 Sartori: “Os Fundamentos da Democracia”
1957 Jones: “Athenian Democracy”
1957 Sartori: “Democracia e definição”
1958 Hannah Arendt: “A condição humana”
1961 Jane Jacobs: “Morte e vida das grandes cidades”
1962 Aron: “Paz e guerra entre as nações”
1963 Hannah Arendt: “Sobre a revolução”
1965 Agard: “What Democracy Meant to the Greeks”
1965 Aron: “Democracia e totalitarismo”
1968 Christophersen: “The Meaning of “Democracy” as Used in European Ideologies from the French to the Russian Revolution”
1969 Berlin: “Quatro ensaios sobre a liberdade”
1973 Macpherson: “Teoria democrática”
1974 Clastres: “A sociedade contra o Estado”
1977 Macpherson: “A democracia liberal e sua época”
1980 Gutman: “Liberal Equality”
1981 Lefort: “A invenção democrática: os limites da dominação totalitária”
1984 Barber: “Strong democracy: participatory politics for a New Age”
1984 Bobbio: “Ética e Política”
1984 “O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo”
1984 Robert Axelrod: “The evolution of cooperation”
1985 Bobbio: “Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política”
1985 Burnheim: “Is democracy possible? The alternative to electoral politics”
1985 Przeworski: “Capitalismo e social democracia”
1986 Cornelius Castoriadis: “Sobre ‘O Político’ de Platão” (edição póstuma (1999) de seminários realizados em 1986)
1987 Agnes Heller: “Princípios Políticos”
1987 Gutman: “Democratic Education”
1987 Sartori: “A teoria democrática revisitada”
1988 Coleman: “Social Capital in the creation of Human Capital”
1988 Humberto Maturana: “Lenguaje, emociones y ética en el quehacer político”
1989 Robert Dahl: “A democracia e os seus críticos”
1991 Fishkin: “Democracy and deliberation”
1991 Huntington: “A terceira onda”
1991 Morgens Hansen: “The Athenian Democracy in the Age of Demosthenes: Structure, Principles, and Ideology”
1991 Przeworski: “Democracia e mercado”
1992 Jürgen Habermas: “Direito e democracia entre facticidade e validade”
1993 (?) Humberto Maturana: “La democracia es una obra de arte” (s. /d).
1993 Chantal Mouffe: “The return of the Political”
1993 Guéhenno: “O fim da democracia”
1993 Humberto Maturana: “Amor y Juego: fundamentos olvidados de lo humano – desde el Patriarcado a la Democracia” (com Gerda Verden-Zöller)
1993 John Rawls: “O liberalismo político”
1993 Robert Putnam: “Making Democracy Works”
1993 Sunstein: “The Partial Constitution”
1994 Andrew Arato & Jean Cohen: “Civil Society and Political Theory”
1994 Hirst: “Associative Democracy: new forms of social and economic governance”
1994 Levy: “A inteligência coletiva”
1996 Bohman: “Public Deliberation”
1996 Budge: “The new challenge of direct democracy”
1996 Castells: “A Era da Informação: economia, sociedade: A sociedade em rede, O poder da identidade e Fim de milênio”
1996 David Held: “Models of Democracy”
1996 Joshua Cohen: “Procedure and Substance in Deliberative Democracy”
1996 Jürgen Habermas: “Between Facts and Norms: Contributions to a Discourse Theory of Law and Democracy”
1996 Nino: “The Constitution of Deliberative Democracy”
1997 Fishkin: “The voice of the people: public opinion and democracy”
1997 O’Donnell: “¿Democracia delegativa? Contrapuntos. Ensayos escogidos sobre autoritarismo y democratización”
1997 Robert Axelrod: “The complexity of cooperation: agent-based models of competition and collaboration”
1997 Walzer: “On toleration”
1998 Axel Honneth: “Democracia como cooperação reflexiva. John Dewey e a teoria democrática hoje”
1998 Finley: “O Legado da Grécia”
1998 I. F. Stone: “O julgamento de Sócrates”
1998 Joshua Cohen: “Democracy and Liberty”
1998 Robert Dahl: “Sobre a democracia”
1998 John Holland: “Emergence: from chaos to order”
1999 Amartya Sen: “Democracia como um valor universal”
1999 Amartya Sen: “Desenvolvimento como liberdade”
1999 Claus Offe: “A atual transição da história e algumas opções básicas para as instituições da sociedade”
1999 Fukuyama: “A grande ruptura: a natureza humana e a reconstituição da ordem social”
1999 Guéhenno: “O futuro da liberdade”
2000 Chantal Mouffe: “The Democratic Paradox”
2002 Alexander Bard e Jan Söderqvist: “Netocracy: the new power elite and life after capitalism”
2003 Duncan Watts: “Six degrees: the science of a connected age”
2007 David de Ugarte: “El poder de las redes”
Não é o caso de justificar a lista, nem de explicar porque nela figura gente que os cientistas políticos jamais recomendaria (e, em alguns casos, nem sequer conhece), como Lao Tzu, Jane Jacobs, Humberto Maturana, John Holland, Bard e Söderqvist, Duncan Watts e David de Ugarte – que não são, propriamente, teóricos da política. Um estudante pode retirar esses nomes da lista (com exceção de Maturana) economizando uns dois meses de leitura, mas isso não o ajudará em nada.
Bem, e se não conseguirmos ler a lista toda, qual o problema? Não há propriamente um problema aqui. Pouca gente conseguiu cumprir esse programa máximo, inclusive eu (embora continue tentando).
Mas há muitas abordagens alternativas à essa lista. Vamos ver algumas possíveis.
II – A LISTA DA IDÉIA DE DEMOCRACIA (OU DA ‘DEMOCRACIA COMO IDÉIA’)
Se estivermos mais interessados no surgimento do conceito fundante de democracia, podemos abreviar drasticamente a lista cheia, lendo apenas (ou, pelo menos, para começar):
422 Eurípedes: “As Suplicantes”
427-347 Platão: “A República”
427-347 Platão: “O Político”
427-347 Platão: “As Leis”
383-322 Aristóteles: “A Política”
383-322 Aristóteles: “A Constituição de Atenas”
1603 Althusius: “Política”
1670 Spinoza: “Tratado Teológico-Político”
1754 Rousseau: “Discurso sobre a origem da desigualdade dos homens”
1762 Rousseau: “O contrato social”
1776 Thomas Jefferson: “Declaração de Independência dos Estados Unidos da América”
1787-1788 “Publios” (Alexander Hamilton, John Jay e James Madison): “O Federalista” (em especial Madison (1987) em um comentário sobre a Constituição dos Estados Unidos)
1789 “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”
1791 Thomas Paine: “Direitos do Homem”
1835 Tocqueville: “A Democracia na América”
1849 Thoreau: “Desobediência Civil”
1856 Tocqueville: “O Antigo Regime e a Revolução”
1859 Stuart Mill: “Sobre a Liberdade”
1861 Stuart Mill: “Sobre o Governo Representativo”
1927 Dewey: “O Público e seus Problemas”
1929 Dewey: “Velho e novo individualismo”
1935 Dewey: “Liberalismo e ação social”
1937 Dewey: “A democracia é radical”
1939 Dewey: “Democracia criativa: a tarefa que temos pela frente”
1950 (c.) Hannah Arendt: “O que é a política?”
1951 Hannah Arendt: “As Origens do Totalitarismo”
1954 Hannah Arendt: “Que é liberdade”
1957 Jones: “Athenian Democracy”
1958 Hannah Arendt: “A condição humana”
1963 Hannah Arendt: “Sobre a revolução”
1965 Agard: “What Democracy Meant to the Greeks”
1981 Lefort: “A invenção democrática: os limites da dominação totalitária”
1986 Cornelius Castoriadis: “Sobre ‘O Político’ de Platão” (edição póstuma (1999) de seminários realizados em 1986)
1988 Humberto Maturana: “Lenguaje, emociones y ética en el quehacer político”
1991 Morgens Hansen: “The Athenian Democracy in the Age of Demosthenes: Structure, Principles, and Ideology”
1993 (?) Humberto Maturana: “La democracia es una obra de arte” (s. /d).
1993 Guéhenno: “O fim da democracia”
1993 Humberto Maturana: “Amor y Juego: fundamentos olvidados de lo humano – desde el Patriarcado a la Democracia” (com Gerda Verden-Zöller)
1993 John Rawls: “O liberalismo político”
1996 Jürgen Habermas: “Between Facts and Norms: Contributions to a Discourse Theory of Law and Democracy”
Neste caso a lista cai para 40 textos e nosso programa de estudo pode ser completado em pouco mais de um ano (ou dois anos, com folga).
III – UMA LISTA ORGANIZADA PARA CAPTAR A TENSÃO ENTRE TENDÊNCIAS DE AUTOCRATIZAÇÃO E DE DEMOCRATIZAÇÃO DA DEMOCRACIA
Se estivermos interessados na tensão entre as tendências de autocratização e de democratização da democracia, podemos adotar um método de leituras confrontantes:
A) ARISTÓTELES CONFRONTADO COM PLATÃO:
427-347 Platão: “A República”
427-347 Platão: “O Político”
427-347 Platão: “As Leis”
383-322 Aristóteles: “A Política”
383-322 Aristóteles: “A Constituição de Atenas”
B) ALTHUSIUS CONFRONTADO COM JEAN BODIN:
1576 Jean Bodin: “Os Seis Livros do Estado (ou da República)”
1603 Althusius: “Política”
C) SPINOZA CONFRONTADO COM HOBBES:
1642 Hobbes: “Do Cidadão”
1651 Hobbes: “Leviatã”
1670 Spinoza: “Tratado Teológico-Político”
1677 Spinoza: “Tratado Político”
D) PAINE CONFRONTADO COM BURKE
1790 Burke: “Reflexões sobre a Revolução Francesa”
1791 Thomas Paine: “Direitos do Homem”
E) ROUSSEAU, JEFFERSON, TOCQUEVILLE E STUART MILL CONFRONTADOS COM MAQUIAVEL, RICHELIEU, GRACIÁN, MAZARIN E CARL SCHMITT
1513 Maquiavel: “O Príncipe”
1516 Thomas Morus: “A Utopia”
1519 Maquiavel: “Discursos sobre a primeira década de Tito Livio”
1632-1639 (c.) Richelieu: “Testamento político”
1647 Baltazar Gracián :“A Arte da Prudência”
1683 Cardeal Mazarin: “Breviário dos Políticos”
1932 Carl Schmitt: “O Conceito do Político”
1754 Rousseau: “Discurso sobre a origem da desigualdade dos homens”
1762 Rousseau: “O contrato social”
1776 Thomas Jefferson: “Declaração de Independência dos Estados Unidos da América”
1835 Tocqueville: “A Democracia na América”
1849 Thoreau: “Desobediência Civil”
1856 Tocqueville: “O Antigo Regime e a Revolução”
1859 Stuart Mill: “Sobre a Liberdade”
1861 Stuart Mill: “Sobre o Governo Representativo”
F) DEWEY, ARENDT E MATURANA CONFRONTADOS COM O DEBATE ATUAL SOBRE A DEMOCRACIA (ver adiante a lista IV):
1927 Dewey: “O Público e seus Problemas”
1929 Dewey: “Velho e novo individualismo”
1935 Dewey: “Liberalismo e ação social”
1937 Dewey: “A democracia é radical”
1939 Dewey: “Democracia criativa: a tarefa que temos pela frente”
1950 (c.) Hannah Arendt: “O que é a política?”
1951 Hannah Arendt: “As Origens do Totalitarismo”
1954 Hannah Arendt: “Que é liberdade”
1958 Hannah Arendt: “A condição humana”
1963 Hannah Arendt: “Sobre a revolução”
1988 Humberto Maturana: “Lenguaje, emociones y ética en el quehacer político”
1993 (?) Humberto Maturana: “La democracia es una obra de arte” (s. /d).
1993 Humberto Maturana: “Amor y Juego: fundamentos olvidados de lo humano – desde el Patriarcado a la Democracia” (com Gerda Verden-Zöller)
Neste caso nossa lista também cai para cerca de 40 textos e podemos percorrê-la em um ou dois anos. Acrescente-se mais um ano para ler a lista seguinte.
IV – UMA LISTA ORGANIZADA A PARTIR DO DEBATE ATUAL SOBRE A DEMOCRACIA
Quem está interessado no debate atual sobre a democracia de olhos voltados ainda um pouco para o passado, pode priorizar:
1980 Gutman: “Liberal Equality”
1984 Barber: “Strong democracy: participatory politics for a New Age”
1985 Burnheim: “Is democracy possible? The alternative to electoral politics”
1987 Gutman: “Democratic Education”
1989 Robert Dahl: “A democracia e os seus críticos”
1992 Jürgen Habermas: “Direito e democracia entre facticidade e validade”
1993 Chantal Mouffe: “The return of the Political”
1993 John Rawls: “O liberalismo político”
1993 Sunstein: “The Partial Constitution”
1994 Andrew Arato & Jean Cohen: “Civil Society and Political Theory”
1994 Hirst: “Associative Democracy: new forms of social and economic governance”
1996 Bohman: “Public Deliberation”
1996 Budge: “The new challenge of direct democracy”
1996 David Held: “Models of Democracy”
1996 Joshua Cohen: “Procedure and Substance in Deliberative Democracy”
1996 Jürgen Habermas: “Between Facts and Norms: Contributions to a Discourse Theory of Law and Democracy”
1996 Nino: “The Constitution of Deliberative Democracy”
1997 Fishkin: “The voice of the people: public opinion and democracy”
1997 O’Donnell: “¿Democracia delegativa? Contrapuntos. Ensayos escogidos sobre autoritarismo y democratización”
1997 Walzer: “On toleration”
1998 Joshua Cohen: “Democracy and Liberty”
2000 Chantal Mouffe: “The Democratic Paradox”
Deu uma lista de 22 livros, que pode ser enfrentada em menos de um ano. Adotando essa alternativa nossa formação ficará incompleta, mas teremos uma visão razoável do que ainda se discute nas academias. Pode-se suprir, em parte, tal insuficiência se acrescentarmos aqui os textos de Hannah Arendt e John Dewey, aumentando a lista para 32 textos que, mesmo assim, ainda podem ser vencidos em um ano:
1927 Dewey: “O Público e seus Problemas”
1929 Dewey: “Velho e novo individualismo”
1935 Dewey: “Liberalismo e ação social”
1937 Dewey: “A democracia é radical”
1939 Dewey: “Democracia criativa: a tarefa que temos pela frente”
1950 (c.) Hannah Arendt: “O que é a política?”
1951 Hannah Arendt: “As Origens do Totalitarismo”
1954 Hannah Arendt: “Que é liberdade”
1958 Hannah Arendt: “A condição humana”
1963 Hannah Arendt: “Sobre a revolução”
V – UMA LISTA PROSPECTIVA SOBRE A DEMOCRACIA DO FUTURO
Quem está interessado no debate atual sobre a democracia, com os olhos voltados mais para o futuro, buscando novas teorias democráticas capazes de recuperar o meme democrático original e reinterpretá-lo à luz das condições do século 21, pode priorizar:
1993 Guéhenno: “O fim da democracia”
1993 Robert Putnam: “Making Democracy Works”
1994 Levy: “A inteligência coletiva”
1996 Castells: “A Era da Informação: economia, sociedade: A sociedade em rede, O poder da identidade e Fim de milênio”
1997 Robert Axelrod: “The complexity of cooperation: agent-based models of competition and collaboration”
1998 Axel Honneth: “Democracia como cooperação reflexiva. John Dewey e a teoria democrática hoje”
1998 John Holland: “Emergence: from chaos to order”
1999 Amartya Sen: “Democracia como um valor universal”
1999 Amartya Sen: “Desenvolvimento como liberdade”
1999 Claus Offe: “A atual transição da história e algumas opções básicas para as instituições da sociedade”
1999 Fukuyama: “A grande ruptura: a natureza humana e a reconstituição da ordem social”
1999 Guéhenno: “O futuro da liberdade”
2002 Alexander Bard e Jan Söderqvist: “Netocracy: the new power elite and life after capitalism”
2003 Duncan Watts: “Six degrees: the science of a connected age”
2007 David de Ugarte: “El poder de las redes”
Aqui, evidentemente, não há lista completa; na verdade não há lista alguma que satisfaça o propósito de estabelecer fundamentos de uma nova visão de democracia compatível com a realidade emergente da sociedade-rede.
Considerando nosso analfabetismo democrático eu recomendaria começar pela alternativa II – UMA LISTA DA IDÉIA DE DEMOCRACIA. A partir daí o estudante, certamente, saberá o que fazer.
A “prova” final de um curso autodidático como esse é escrever alguma coisa original, inventada. Inventada, sim: não acredite nos que vão dizer que isso é “assim” ou não pode ser “assado”. Produza, publique sem pedir autorização a ninguém e depois arque com as conseqüências expondo-se a crítica.
A árvore se conhece pelos frutos. Não é necessário um fiscal para dizer se o fruto é bom ou ruim segundo suas concepções e seus gostos. Se as pessoas puderem chegar até a árvore, colher os frutos e experimentá-los, saberão se vale a pena comê-los até o fim. Ponto.
:-:-:
Fonte: <http://augustodefranco.locaweb.com.br/outros_textos_comments.php?id=147_0_3_0_C>.
(03/11/07)
É necessário ler os textos básicos: os clássicos, com certeza, mas também alguma coisa contemporânea. O que não se pode fazer é trocar a leitura dos textos (fontes) pela leitura do que disseram sobre esses textos. Ao contrário do que se pratica nas academias, vá primeiro beber direto na fonte e depois faça o que quiser (ou puder).
Para fazer um curso teórico de política, do ponto de vista de quem está interessado na democracia, é necessário ler os textos básicos: os clássicos, com certeza, mas também alguma coisa contemporânea. Tal lista, se for relativamente completa, dá mais ou menos uns 200 textos. Proponho aqui uma lista de 160 textos.
Para quem está interessado na política democrática, imagino que seja melhor fazer um esforço autodidático para ler os textos do que se matricular em um curso superior de política e ficar assistindo aulas de professores que reproduzem as modas da época, indicam bibliografias (em geral fotocópias de partes de textos clássicos, resenhas e análises que interessam mais aos trabalhos acadêmicos que estão fazendo no momento do que ao aluno) e que, via de regra, não leram, eles próprios, a maioria dos textos básicos.
Ler 160 textos, a primeira vista, parece uma tarefa impossível, mas não é. Lendo 3 textos por mês, isso dá mais ou menos 54 meses; ou seja, quatro anos e meio (um tempo menor do que se gasta para fazer uma graduação seguida de mestrado).
É evidente que não basta ler os textos indicados na lista abaixo. O estudante deve procurar se informar sobre o autor e sobre as circunstâncias em que produziu sua obra. Deve ler pelo menos um ou dois artigos de especialistas contextualizando a obra. O que não se pode fazer é trocar a leitura dos textos (fontes) pela leitura do que disseram sobre esses textos. Ao contrário do que se pratica nas academias, vá primeiro beber direto na fonte e depois faça o que quiser (ou puder).
Aulas não servem para muita coisa. Se houver um grupo de meia dúzia a uma dúzia de estudantes e esse grupo puder organizar um seminário de dez em dez dias sobre cada um dos textos, será o ideal. Leitura individual (2 a 3 horas por dia), três discussões (de 6 horas cada, por mês) e pronto. Ou quase.
Por último, é bom que o estudante escreva um pequeno artigo (de, no máximo, uns 5 mil caracteres, pois a capacidade de síntese é um dos indicadores de compreensão) sobre o texto que leu. Não é para resumir, resenhar, “fichar” ou copiar (ou repetir com outras palavras) o que disseram o autor ou seus comentadores e críticos. É para descobrir coisas novas, formar uma opinião própria que tente acrescentar alguma coisa ao que já foi dito.
A rigor nenhum conhecimento pode ser transferido. O conhecimento é sempre criado e recriado ou reconstruído; de certo modo, inventado. Quem não inventa nada, não aprende nada.
I – A LISTA INTEIRA
Eis então a lista inteira (com 160 textos, mas não completa), organizada em ordem cronológica:
604 (c.) “Tao-te King” de Lao Tzu
500 (c.) Sun Tzu:“A Arte da Guerra”
490 Confúcio: “Os Analectos”
472 Ésquilo: “Os Persas”
422 Eurípedes: “As Suplicantes”
427-347 Platão: “A República”
427-347 Platão: “O Político”
427-347 Platão: “As Leis”
383-322 Aristóteles: “A Política”
383-322 Aristóteles: “A Constituição de Atenas”
280-234 Han Fei Zi: “A Arte da Política (Os homens e a lei)”
106-43 Cícero: “Da República”
106-43 Cícero: “Das Leis”
106-43 Cícero: “Dos Deveres”
1225-1274 Tomás de Aquino: “Do Governo dos Príncipes”
1312 Dante Alighieri: “Da Monarquia”
1324 Marcílio de Pádua: “Defensor da paz”
1513 Maquiavel: “O Príncipe”
1516 Thomas Morus: “A Utopia”
1519 Maquiavel: “Discursos sobre a primeira década de Tito Livio”
1548 La Boétie: “Discurso da servidão voluntária”
1576 Francesco Guicciardini: “Recordações Políticas e Civis”
1576 Jean Bodin: “Os Seis Livros do Estado (ou da República)”
1589 Giovanni Botero: “A Razão de Estado”
1602 Tommaso Campanella: “A Cidade do Sol”
1603 Althusius: “Política”
1625 Grotius: “Direito da Guerra e da Paz”
1632-1639 (c.) Richelieu: “Testamento político”
1642 Hobbes: “Do Cidadão”
1647 Baltazar Gracián :“A Arte da Prudência”
1651 Hobbes: “Leviatã”
1670 Spinoza: “Tratado Teológico-Político”
1677 Spinoza: “Tratado Político”
1683 Cardeal Mazarin: “Breviário dos Políticos”
1688 Leibniz: “Elementos do Direito Natural”
1690 Locke: “Dois Tratados sobre o Governo”
1716 François de Callières: “Como negociar com Príncipes”
1748 Hume: “Investigação sobre o Entendimento Humano”
1749 Montesquieu: “O Espírito das Leis”
1754 Rousseau: “Discurso sobre a origem da desigualdade dos homens”
1762 Rousseau: “O contrato social”
1764 Beccaria: “Dos Delitos e das Penas”
1776 Thomas Jefferson:“Declaração de Independência dos Estados Unidos da América”
1787-1788 “Publios” (Alexander Hamilton, John Jay e James Madison): “O Federalista” (em especial Madison (1987) em um comentário sobre a Constituição dos Estados Unidos)
1789 “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”
1789 Bentham: “Introdução aos princípios da moral e da legislação”
1789 Sieyès: “O que é o Terceiro Estado”
1790 Burke: “Reflexões sobre a Revolução Francesa”
1791 Thomas Paine: “Direitos do Homem”
1792 von Humbolt: “Ensaio sobre os limites da atividade do Estado”
1795 Kant: “A paz perpétua”
1797 Kant: “Metafísica dos Costumes”
1808 Ficht: “Discursos à Nação Alemã”
1815 Benjamin Constant: “Princípios da política”
1816 Bentham: “Sofismas Políticos”
1819 Benjamin Constant: “Discurso sobre a Liberdade dos Antigos Comparada com a dos Modernos”
1821 Hegel: “Princípios de Filosofia do Direito”
1832 Carl von Clausewitz: “Da Guerra”
1835 Tocqueville: “A Democracia na América”
1840 Proudhon: “O que é a Propriedade”
1843 Marx: “A questão judaica”
1843 Marx: “Crítica da filosofia hegeliana do direito”
1849 Thoreau: “Desobediência Civil”
1856 Tocqueville: “O Antigo Regime e a Revolução”
1859 Stuart Mill: “Sobre a Liberdade”
1861 Stuart Mill: “Sobre o Governo Representativo”
1896 Mosca: “Elementos de Ciência Política”
1908 Sorel: “Reflexões sobre a Violência”
1909 Croce: “Filosofia da Prática”
1911 Michels: “Os partidos políticos: ensaios sobre as tendências oligárquicas das democracias”
1916 Gentile: “Fundamentos da Filosofia do Direito”
1919 Pareto: “As Transformações da Democracia”
1922 Weber: “Economia e Sociedade”
1927 Dewey: “O Público e seus Problemas”
1929 Dewey: “Velho e novo individualismo”
1932 Carl Schmitt: “O Conceito do Político”
1935 Dewey: “Liberalismo e ação social”
1937 Dewey: “A democracia é radical”
1937 Horkheimer: “Teoria tradicional e teoria crítica”
1939 Dewey: “Democracia criativa: a tarefa que temos pela frente”
1942 Horkheimer: “O Estado autoritário”
1942 Schumpeter: “Capitalismo, socialismo e democracia”
1944 Hayek: “O caminho da servidão”
1944 Polanyi: “A Grande Transformação”
1945 Kelsen: “Teoria geral do Direito e do Estado”
1947 Gramsci: “Cadernos do Cárcere”
1950 (c.) Hannah Arendt: “O que é a política?”
1951 Hannah Arendt: “As Origens do Totalitarismo”
1954 Hannah Arendt: “Que é liberdade”
1955 Sartori: “Os Fundamentos da Democracia”
1957 Jones: “Athenian Democracy”
1957 Sartori: “Democracia e definição”
1958 Hannah Arendt: “A condição humana”
1961 Jane Jacobs: “Morte e vida das grandes cidades”
1962 Aron: “Paz e guerra entre as nações”
1963 Hannah Arendt: “Sobre a revolução”
1965 Agard: “What Democracy Meant to the Greeks”
1965 Aron: “Democracia e totalitarismo”
1968 Christophersen: “The Meaning of “Democracy” as Used in European Ideologies from the French to the Russian Revolution”
1969 Berlin: “Quatro ensaios sobre a liberdade”
1973 Macpherson: “Teoria democrática”
1974 Clastres: “A sociedade contra o Estado”
1977 Macpherson: “A democracia liberal e sua época”
1980 Gutman: “Liberal Equality”
1981 Lefort: “A invenção democrática: os limites da dominação totalitária”
1984 Barber: “Strong democracy: participatory politics for a New Age”
1984 Bobbio: “Ética e Política”
1984 “O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo”
1984 Robert Axelrod: “The evolution of cooperation”
1985 Bobbio: “Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política”
1985 Burnheim: “Is democracy possible? The alternative to electoral politics”
1985 Przeworski: “Capitalismo e social democracia”
1986 Cornelius Castoriadis: “Sobre ‘O Político’ de Platão” (edição póstuma (1999) de seminários realizados em 1986)
1987 Agnes Heller: “Princípios Políticos”
1987 Gutman: “Democratic Education”
1987 Sartori: “A teoria democrática revisitada”
1988 Coleman: “Social Capital in the creation of Human Capital”
1988 Humberto Maturana: “Lenguaje, emociones y ética en el quehacer político”
1989 Robert Dahl: “A democracia e os seus críticos”
1991 Fishkin: “Democracy and deliberation”
1991 Huntington: “A terceira onda”
1991 Morgens Hansen: “The Athenian Democracy in the Age of Demosthenes: Structure, Principles, and Ideology”
1991 Przeworski: “Democracia e mercado”
1992 Jürgen Habermas: “Direito e democracia entre facticidade e validade”
1993 (?) Humberto Maturana: “La democracia es una obra de arte” (s. /d).
1993 Chantal Mouffe: “The return of the Political”
1993 Guéhenno: “O fim da democracia”
1993 Humberto Maturana: “Amor y Juego: fundamentos olvidados de lo humano – desde el Patriarcado a la Democracia” (com Gerda Verden-Zöller)
1993 John Rawls: “O liberalismo político”
1993 Robert Putnam: “Making Democracy Works”
1993 Sunstein: “The Partial Constitution”
1994 Andrew Arato & Jean Cohen: “Civil Society and Political Theory”
1994 Hirst: “Associative Democracy: new forms of social and economic governance”
1994 Levy: “A inteligência coletiva”
1996 Bohman: “Public Deliberation”
1996 Budge: “The new challenge of direct democracy”
1996 Castells: “A Era da Informação: economia, sociedade: A sociedade em rede, O poder da identidade e Fim de milênio”
1996 David Held: “Models of Democracy”
1996 Joshua Cohen: “Procedure and Substance in Deliberative Democracy”
1996 Jürgen Habermas: “Between Facts and Norms: Contributions to a Discourse Theory of Law and Democracy”
1996 Nino: “The Constitution of Deliberative Democracy”
1997 Fishkin: “The voice of the people: public opinion and democracy”
1997 O’Donnell: “¿Democracia delegativa? Contrapuntos. Ensayos escogidos sobre autoritarismo y democratización”
1997 Robert Axelrod: “The complexity of cooperation: agent-based models of competition and collaboration”
1997 Walzer: “On toleration”
1998 Axel Honneth: “Democracia como cooperação reflexiva. John Dewey e a teoria democrática hoje”
1998 Finley: “O Legado da Grécia”
1998 I. F. Stone: “O julgamento de Sócrates”
1998 Joshua Cohen: “Democracy and Liberty”
1998 Robert Dahl: “Sobre a democracia”
1998 John Holland: “Emergence: from chaos to order”
1999 Amartya Sen: “Democracia como um valor universal”
1999 Amartya Sen: “Desenvolvimento como liberdade”
1999 Claus Offe: “A atual transição da história e algumas opções básicas para as instituições da sociedade”
1999 Fukuyama: “A grande ruptura: a natureza humana e a reconstituição da ordem social”
1999 Guéhenno: “O futuro da liberdade”
2000 Chantal Mouffe: “The Democratic Paradox”
2002 Alexander Bard e Jan Söderqvist: “Netocracy: the new power elite and life after capitalism”
2003 Duncan Watts: “Six degrees: the science of a connected age”
2007 David de Ugarte: “El poder de las redes”
Não é o caso de justificar a lista, nem de explicar porque nela figura gente que os cientistas políticos jamais recomendaria (e, em alguns casos, nem sequer conhece), como Lao Tzu, Jane Jacobs, Humberto Maturana, John Holland, Bard e Söderqvist, Duncan Watts e David de Ugarte – que não são, propriamente, teóricos da política. Um estudante pode retirar esses nomes da lista (com exceção de Maturana) economizando uns dois meses de leitura, mas isso não o ajudará em nada.
Bem, e se não conseguirmos ler a lista toda, qual o problema? Não há propriamente um problema aqui. Pouca gente conseguiu cumprir esse programa máximo, inclusive eu (embora continue tentando).
Mas há muitas abordagens alternativas à essa lista. Vamos ver algumas possíveis.
II – A LISTA DA IDÉIA DE DEMOCRACIA (OU DA ‘DEMOCRACIA COMO IDÉIA’)
Se estivermos mais interessados no surgimento do conceito fundante de democracia, podemos abreviar drasticamente a lista cheia, lendo apenas (ou, pelo menos, para começar):
422 Eurípedes: “As Suplicantes”
427-347 Platão: “A República”
427-347 Platão: “O Político”
427-347 Platão: “As Leis”
383-322 Aristóteles: “A Política”
383-322 Aristóteles: “A Constituição de Atenas”
1603 Althusius: “Política”
1670 Spinoza: “Tratado Teológico-Político”
1754 Rousseau: “Discurso sobre a origem da desigualdade dos homens”
1762 Rousseau: “O contrato social”
1776 Thomas Jefferson: “Declaração de Independência dos Estados Unidos da América”
1787-1788 “Publios” (Alexander Hamilton, John Jay e James Madison): “O Federalista” (em especial Madison (1987) em um comentário sobre a Constituição dos Estados Unidos)
1789 “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”
1791 Thomas Paine: “Direitos do Homem”
1835 Tocqueville: “A Democracia na América”
1849 Thoreau: “Desobediência Civil”
1856 Tocqueville: “O Antigo Regime e a Revolução”
1859 Stuart Mill: “Sobre a Liberdade”
1861 Stuart Mill: “Sobre o Governo Representativo”
1927 Dewey: “O Público e seus Problemas”
1929 Dewey: “Velho e novo individualismo”
1935 Dewey: “Liberalismo e ação social”
1937 Dewey: “A democracia é radical”
1939 Dewey: “Democracia criativa: a tarefa que temos pela frente”
1950 (c.) Hannah Arendt: “O que é a política?”
1951 Hannah Arendt: “As Origens do Totalitarismo”
1954 Hannah Arendt: “Que é liberdade”
1957 Jones: “Athenian Democracy”
1958 Hannah Arendt: “A condição humana”
1963 Hannah Arendt: “Sobre a revolução”
1965 Agard: “What Democracy Meant to the Greeks”
1981 Lefort: “A invenção democrática: os limites da dominação totalitária”
1986 Cornelius Castoriadis: “Sobre ‘O Político’ de Platão” (edição póstuma (1999) de seminários realizados em 1986)
1988 Humberto Maturana: “Lenguaje, emociones y ética en el quehacer político”
1991 Morgens Hansen: “The Athenian Democracy in the Age of Demosthenes: Structure, Principles, and Ideology”
1993 (?) Humberto Maturana: “La democracia es una obra de arte” (s. /d).
1993 Guéhenno: “O fim da democracia”
1993 Humberto Maturana: “Amor y Juego: fundamentos olvidados de lo humano – desde el Patriarcado a la Democracia” (com Gerda Verden-Zöller)
1993 John Rawls: “O liberalismo político”
1996 Jürgen Habermas: “Between Facts and Norms: Contributions to a Discourse Theory of Law and Democracy”
Neste caso a lista cai para 40 textos e nosso programa de estudo pode ser completado em pouco mais de um ano (ou dois anos, com folga).
III – UMA LISTA ORGANIZADA PARA CAPTAR A TENSÃO ENTRE TENDÊNCIAS DE AUTOCRATIZAÇÃO E DE DEMOCRATIZAÇÃO DA DEMOCRACIA
Se estivermos interessados na tensão entre as tendências de autocratização e de democratização da democracia, podemos adotar um método de leituras confrontantes:
A) ARISTÓTELES CONFRONTADO COM PLATÃO:
427-347 Platão: “A República”
427-347 Platão: “O Político”
427-347 Platão: “As Leis”
383-322 Aristóteles: “A Política”
383-322 Aristóteles: “A Constituição de Atenas”
B) ALTHUSIUS CONFRONTADO COM JEAN BODIN:
1576 Jean Bodin: “Os Seis Livros do Estado (ou da República)”
1603 Althusius: “Política”
C) SPINOZA CONFRONTADO COM HOBBES:
1642 Hobbes: “Do Cidadão”
1651 Hobbes: “Leviatã”
1670 Spinoza: “Tratado Teológico-Político”
1677 Spinoza: “Tratado Político”
D) PAINE CONFRONTADO COM BURKE
1790 Burke: “Reflexões sobre a Revolução Francesa”
1791 Thomas Paine: “Direitos do Homem”
E) ROUSSEAU, JEFFERSON, TOCQUEVILLE E STUART MILL CONFRONTADOS COM MAQUIAVEL, RICHELIEU, GRACIÁN, MAZARIN E CARL SCHMITT
1513 Maquiavel: “O Príncipe”
1516 Thomas Morus: “A Utopia”
1519 Maquiavel: “Discursos sobre a primeira década de Tito Livio”
1632-1639 (c.) Richelieu: “Testamento político”
1647 Baltazar Gracián :“A Arte da Prudência”
1683 Cardeal Mazarin: “Breviário dos Políticos”
1932 Carl Schmitt: “O Conceito do Político”
1754 Rousseau: “Discurso sobre a origem da desigualdade dos homens”
1762 Rousseau: “O contrato social”
1776 Thomas Jefferson: “Declaração de Independência dos Estados Unidos da América”
1835 Tocqueville: “A Democracia na América”
1849 Thoreau: “Desobediência Civil”
1856 Tocqueville: “O Antigo Regime e a Revolução”
1859 Stuart Mill: “Sobre a Liberdade”
1861 Stuart Mill: “Sobre o Governo Representativo”
F) DEWEY, ARENDT E MATURANA CONFRONTADOS COM O DEBATE ATUAL SOBRE A DEMOCRACIA (ver adiante a lista IV):
1927 Dewey: “O Público e seus Problemas”
1929 Dewey: “Velho e novo individualismo”
1935 Dewey: “Liberalismo e ação social”
1937 Dewey: “A democracia é radical”
1939 Dewey: “Democracia criativa: a tarefa que temos pela frente”
1950 (c.) Hannah Arendt: “O que é a política?”
1951 Hannah Arendt: “As Origens do Totalitarismo”
1954 Hannah Arendt: “Que é liberdade”
1958 Hannah Arendt: “A condição humana”
1963 Hannah Arendt: “Sobre a revolução”
1988 Humberto Maturana: “Lenguaje, emociones y ética en el quehacer político”
1993 (?) Humberto Maturana: “La democracia es una obra de arte” (s. /d).
1993 Humberto Maturana: “Amor y Juego: fundamentos olvidados de lo humano – desde el Patriarcado a la Democracia” (com Gerda Verden-Zöller)
Neste caso nossa lista também cai para cerca de 40 textos e podemos percorrê-la em um ou dois anos. Acrescente-se mais um ano para ler a lista seguinte.
IV – UMA LISTA ORGANIZADA A PARTIR DO DEBATE ATUAL SOBRE A DEMOCRACIA
Quem está interessado no debate atual sobre a democracia de olhos voltados ainda um pouco para o passado, pode priorizar:
1980 Gutman: “Liberal Equality”
1984 Barber: “Strong democracy: participatory politics for a New Age”
1985 Burnheim: “Is democracy possible? The alternative to electoral politics”
1987 Gutman: “Democratic Education”
1989 Robert Dahl: “A democracia e os seus críticos”
1992 Jürgen Habermas: “Direito e democracia entre facticidade e validade”
1993 Chantal Mouffe: “The return of the Political”
1993 John Rawls: “O liberalismo político”
1993 Sunstein: “The Partial Constitution”
1994 Andrew Arato & Jean Cohen: “Civil Society and Political Theory”
1994 Hirst: “Associative Democracy: new forms of social and economic governance”
1996 Bohman: “Public Deliberation”
1996 Budge: “The new challenge of direct democracy”
1996 David Held: “Models of Democracy”
1996 Joshua Cohen: “Procedure and Substance in Deliberative Democracy”
1996 Jürgen Habermas: “Between Facts and Norms: Contributions to a Discourse Theory of Law and Democracy”
1996 Nino: “The Constitution of Deliberative Democracy”
1997 Fishkin: “The voice of the people: public opinion and democracy”
1997 O’Donnell: “¿Democracia delegativa? Contrapuntos. Ensayos escogidos sobre autoritarismo y democratización”
1997 Walzer: “On toleration”
1998 Joshua Cohen: “Democracy and Liberty”
2000 Chantal Mouffe: “The Democratic Paradox”
Deu uma lista de 22 livros, que pode ser enfrentada em menos de um ano. Adotando essa alternativa nossa formação ficará incompleta, mas teremos uma visão razoável do que ainda se discute nas academias. Pode-se suprir, em parte, tal insuficiência se acrescentarmos aqui os textos de Hannah Arendt e John Dewey, aumentando a lista para 32 textos que, mesmo assim, ainda podem ser vencidos em um ano:
1927 Dewey: “O Público e seus Problemas”
1929 Dewey: “Velho e novo individualismo”
1935 Dewey: “Liberalismo e ação social”
1937 Dewey: “A democracia é radical”
1939 Dewey: “Democracia criativa: a tarefa que temos pela frente”
1950 (c.) Hannah Arendt: “O que é a política?”
1951 Hannah Arendt: “As Origens do Totalitarismo”
1954 Hannah Arendt: “Que é liberdade”
1958 Hannah Arendt: “A condição humana”
1963 Hannah Arendt: “Sobre a revolução”
V – UMA LISTA PROSPECTIVA SOBRE A DEMOCRACIA DO FUTURO
Quem está interessado no debate atual sobre a democracia, com os olhos voltados mais para o futuro, buscando novas teorias democráticas capazes de recuperar o meme democrático original e reinterpretá-lo à luz das condições do século 21, pode priorizar:
1993 Guéhenno: “O fim da democracia”
1993 Robert Putnam: “Making Democracy Works”
1994 Levy: “A inteligência coletiva”
1996 Castells: “A Era da Informação: economia, sociedade: A sociedade em rede, O poder da identidade e Fim de milênio”
1997 Robert Axelrod: “The complexity of cooperation: agent-based models of competition and collaboration”
1998 Axel Honneth: “Democracia como cooperação reflexiva. John Dewey e a teoria democrática hoje”
1998 John Holland: “Emergence: from chaos to order”
1999 Amartya Sen: “Democracia como um valor universal”
1999 Amartya Sen: “Desenvolvimento como liberdade”
1999 Claus Offe: “A atual transição da história e algumas opções básicas para as instituições da sociedade”
1999 Fukuyama: “A grande ruptura: a natureza humana e a reconstituição da ordem social”
1999 Guéhenno: “O futuro da liberdade”
2002 Alexander Bard e Jan Söderqvist: “Netocracy: the new power elite and life after capitalism”
2003 Duncan Watts: “Six degrees: the science of a connected age”
2007 David de Ugarte: “El poder de las redes”
Aqui, evidentemente, não há lista completa; na verdade não há lista alguma que satisfaça o propósito de estabelecer fundamentos de uma nova visão de democracia compatível com a realidade emergente da sociedade-rede.
Considerando nosso analfabetismo democrático eu recomendaria começar pela alternativa II – UMA LISTA DA IDÉIA DE DEMOCRACIA. A partir daí o estudante, certamente, saberá o que fazer.
A “prova” final de um curso autodidático como esse é escrever alguma coisa original, inventada. Inventada, sim: não acredite nos que vão dizer que isso é “assim” ou não pode ser “assado”. Produza, publique sem pedir autorização a ninguém e depois arque com as conseqüências expondo-se a crítica.
A árvore se conhece pelos frutos. Não é necessário um fiscal para dizer se o fruto é bom ou ruim segundo suas concepções e seus gostos. Se as pessoas puderem chegar até a árvore, colher os frutos e experimentá-los, saberão se vale a pena comê-los até o fim. Ponto.
:-:-:
Fonte: <http://augustodefranco.locaweb.com.br/outros_textos_comments.php?id=147_0_3_0_C>.
Nenhum comentário:
Postar um comentário