quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Eles lutavam pela democracia?

(Coluna de Augusto Nunes, Veja)

Palavras de Daniel Aarão Reis 13/04/2010 às 21:20 \ Direto ao Ponto

Os ladrões da verdade assumem o leme da nau dos insensatos

Assaltantes da verdade histórica são incorrigíveis, confirma o palavrório dos stalinistas farofeiros embarcados na candidatura de Dilma Rousseff. Empenhados em explicar outra derrapagem da palanqueira aprendiz, que reduziu a fugitivos medrosos os brasileiros que se exilaram para escapar da morte, todos repetiram que Dilma não quis ofender os companheiros que, como a própria declarante, arriscaram a vida para derrubar a ditadura. Derrubar a ditadura militar para instituir a ditadura do proletariado, devem corrigir aos berros os veteranos da resistência democrática que a seita comunista sempre desprezou.

“As esquerdas radicais não queriam restaurar a democracia, considerada um conceito burguês, mas instaurar o socialismo por meio de uma ditadura revolucionária”, constatou Daniel Aarão Reis, ex-ideólogo do MR-8, ex-exilado e hoje professor de História na Universidade Federal Fluminense. “Não compartilho da lenda segundo a qual fomos ­ o braço armado de uma resistência democrática. Não existe um só documento dessas organizações que optaram pela luta armada que as apresente como instrumento da resistência democrática”.

Dilma Rousseff e seus camaradas jamais tiveram qualquer apreço pela liberdade. Percorreram o desvio da luta armada em busca de um regime ainda mais selvagem e infame que o imposto ao Brasil pelo AI-5. Pretendiam apenas trocar generais primitivos por sacerdotes da brutalidade. O sessentão Carlos Marighella, lembrei num post de julho de 2009 republicado em dezembro, ensinava que “ser terrorista é motivo de orgulho”, e discorria sobre a beleza que há em “matar com naturalidade” em livros ou nas reuniões com pupilos grávidos de certezas.

No fim dos anos 60, continua o mesmo post, os passageiros do delírio decidiram que a rota que levaria à luz passava necessariamente pelos campos do horror ─ e declararam interditados os caminhos alternativos. Todos tinham como marco zero a rendição vergonhosa e conduziam à cumplicidade com os donos do poder, decretou a falácia autoritária afinal implodida pelos que se mantiveram lúcidos, recusaram a idiotia maniqueísta e percorreram a trilha da resistência democrática.

Estivemos certos desde sempre. Desarmados, prosseguimos o combate contra o inimigo que os derrotou em poucos meses. Enquanto lutávamos pela destruição das catacumbas da tortura, eles se distraíam em cursinhos de guerrilha ou no parto de manifestos de hospício. Estavam longe ─ no desterro, na cadeia ou na clandestinidade ─ quando militares ultradireitistas tentaram trucidar a abertura política. Só se livraram do cárcere e do exílio porque conseguimos a anistia, restabelecemos as eleições diretas e restauramos a democracia.

Nós vencemos. Eles perderam todas. Não foram poucos os que se tornaram contemporâneos do mundo ao redor durante o degredo e regressaram transformados em libertários irretocáveis. Mas são muitos os que mantêm a cabeça estacionada em algum lugar do passado, sempre exibindo a pose de condenados ao triunfo. Fantasiados de feridos de guerra, apropriaram-se de indenizações milionárias, empregos federais, mesadas de filho mimado. Com a velha arrogância, seguem convencidos de que quem está com eles tem razão e promovem perfeitos crápulas a soldados a serviço das causas populares. Quem não se junta ao bando é inimigo do povo, lacaio dos patrões, reacionário, elitista, golpista vocacional.

A postura e o desempenho dos dirceus, franklins, dilmas, genoínos, garcias, tarsos, vannuchis e o resto da turma advertem: passados tantos anos, estão prontos para errar de novo. Infiltrados no governo de um presidente que não lê, não sabe escrever, merece zero em conhecimentos gerais e faz qualquer negócio para desfrutar do poder, aparelharam o Estado e vão forjando alianças com o que há de pior na vizinhança para eternizar-se no controle do país. Sequestradores da liberdade e assassinos da democracia jamais deixam de sonhar com o pesadelo. Não têm cura. Nenhum democrata lhes deve nada. Eles é que nos devem tudo, a começar pela vida.

Agora com Dilma Rousseff na proa e os ladrões da verdade de posse do leme, a nau dos insensatos tenta atracar para sempre no coração do poder. Não conseguirá.

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26/07/2009 às 16:39 \ Direto ao Ponto

Nenhum de nós lhes deve nada. Eles nos devem tudo, a começar pela vida

“Ainda bem que a gente não chegou ao poder: se isso acontecesse, teria de devolver no dia seguinte”, disse Vladimir Palmeira, em maio do ano passado, num debate entre veteranos de 1968. “A gente sabia muito pouco, não tinha preparo para governar país nenhum”. Certíssimo. “A gente não tinha nem mesmo um projeto de poder”. Errado. Os comandantes do movimento estudantil (e, sobretudo, seus mentores na clandestinidade) tinham um projeto, sim. Tão claro quanto perverso: substituir a ditadura militar pela ditadura do proletariado.

Quem não tinha projeto de poder era a “massa de manobra”, como se referiam os chefes à multidão de jovens ingênuos, generosos, anônimos, que repetiam palavras-de-ordem cujo real significado ignoravam e cumpriam ordens e instruções vindas de cima. Os soldados rasos lutavam pela liberdade. Os comandantes planejavam suprimi-la. O rebanho sonhava com a ressurreição da democracia. Os pastores queriam muito mais, confirma Daniel Aarão Reis, ex-militante do MR-8, ex-exilado e hoje professor de História na Universidade Federal Fluminense.

“As esquerdas radicais não queriam restaurar a democracia, considerada um conceito burguês, mas instaurar o socialismo por meio de uma ditadura revolucionária”, fala de cadeira Aarão Reis, principal ideólogo de uma dissidência do PCB que desembocou no MR-8. “Não compartilho da lenda segundo a qual fomos ­ o braço armado de uma resistência democrática. Não existe um só documento dessas organizações que optaram pela luta armada que as apresente como instrumento da resistência democrática”.

Recrutados na massa de manobra, os alunos dos cursinhos intensivos de revolução ainda estavam na terceira vírgula de O Capital e no quinto parágrafo de Engels quando descobriam que desistir das aulas semanais era crime sem perdão. “Ele desbundou”, desdenhavam os mestres de qualquer discípulo sumido. Meia dúzia de panfletos de Lenin depois, os aprendizes descobriam que se haviam tornado oficiais do exército mobilizado para sepultar o capitalismo e conduzir o povo ao paraíso comunista.

Muitos se diplomavam sem sequer desconfiar da grande missão. Mas gente como Vladimir Palmeira tinha idade e milhagem suficientes para saber que perseguia um regime ainda mais selvagem, brutal e infame que o imposto ao Brasil. Conviviam com tutores de larga milhagem. O sessentão Carlos Marighela, por exemplo, ensinava aos pupilos da ALN a beleza que há em “matar com naturalidade”, ou por que “ser terrorista é motivo de orgulho”. Deveriam todos orgulhar-se da escolha feita quando confrontados com a bifurcação escavada pelo AI-5.

A rota certa era a esquerda, avisavam os que nunca tinham dúvidas. Passava pela luta armada e levava à luz. A outra era a errada. Passava pela rendição vergonhosa e levava à cumplicidade ostensiva com os donos do poder. Ou, na menos lamentável das hipóteses, aos campos da omissão onde se amontoavam desertores da guerra justa. A falácia foi implodida pelos que se mantiveram lúcidos, recusaram a idiotia maniqueísta e percorreram o caminho da resistência democrática.

Estivemos certos desde sempre. Desarmados, prosseguimos o combate contra quem os derrotara em poucos meses. Enquanto lutávamos pela destruição dos porões da tortura, eles se distraíam em cursinhos de guerrilha ou no parto de manifestos delirantes. Estavam longe quando militares ultradireitistas tentaram trucidar a abertura política. Só se livraram do cárcere e do exílio porque conseguimos a anistia, restabelecemos as eleições diretas e restauramos a democracia. Nós vencemos. Eles perderam todas. Alguns enfim conseguiram tornar-se contemporâneos do mundo ao redor. Quase todos permaneceram com a cabeça estacionada em algum lugar do passado. E voltaram com a pose dos condenados ao triunfo.

Fantasiados de feridos de guerra, os sessentões de 68 se apropriaram de indenizações milionárias, empregos federais, mesadas de filho mimado. Com a velha arrogância, seguem convencidos de que quem está com eles tem razão. Passa a fazer parte da esquerda, formada por guerreiros a serviço das causas populares. Quem não se junta ao bando é inimigo do povo, lacaio dos patrões, reacionário, elitista, golpista vocacional. O comportamento e a discurseira dos dirceus, franklins, dilmas, genoínos, palmeiras, garcias, tarsos, vannuchis e o resto da turma confirmam: passados tantos anos, estão prontos para errar de novo. Infiltrados no governo de um presidente que não lê, não sabe escrever, merece zero em conhecimentos gerais e faz qualquer negócio para desfrutar do poder, eles aparelharam o Estado e vão forjando alianças com o que há de pior na vizinhança para eternizar-se no controle do país. Se não roubam , associam-se a ladrões. Se não matam, tornam-se comparsas de homicidas.

Sequestradores da liberdade e assassinos da democracia jamais deixam de sonhar com o pesadelo. Não têm cura. Nenhum democrata lhes deve nada. Eles é que nos devem tudo, a começar pela vida.

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