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Transcrição.
Dinesh D'Souza:
Como podemos julgar racionalmente que Deus existe? Deixe-me perguntar-lhes essa questão.
Cientistas que começam a olhar para o universo, se perguntam: Por que o universo tem as regras que tem? Por que o universo opera de acordo com ajustes e parâmetros específicos que ele tem? E se esses parâmetros fossem um pouco diferentes?
Os cientistas que olharam para isso afirmam que se mudássemos os parâmetros, mesmo que fosse por uma quantidade infinitesimal - se a força gravitacional fosse ligeiramente diferentes, ou a força nuclear forte, ou a força fraca do elétron - não teríamos esse universo, não teríamos vida e não estaríamos tendo esse debate.
Qual a sua explicação sobre vivermos em um universo com tanta sintonia fina? Ele parece sugerir que há um sintonizador, ou projetista.
O Darwinismo aqui está perdido pois ele não se propõe a explicar o universo, mas apenas as transições de seres vivos, então qual é a sua teoria racional que explique como vivemos num universo tão finamente ajustado.
Christopher Hitchens:
Há um bom motivo pelo qual ninguém me procura buscando argumentos sobre a Física, mas eu tenho que - eu não estou lidando com a questão - apenas para as suas anotações, senhoras e senhores, há um livro de Steiner sobre o assunto, (Dinesh lida com ele em seu livro), que faz a alegação ousada de que a ciência na verdade nega o caso.
Dinesh:
Bem, Steiner diz que as leis da Física surgem do nada. Você concorda?
Hitchens:
Além do que eu já disse, eu simplesmente recomendo que vocês o leiam.
Uma tautologia é colocada diante de todos aqueles que vão por esse argumento. Richard Dawkins já disse pra mim uma vez que ele achava que esse foi o argumento mais interessante até hoje que ele ouviu ou encontrou até hoje em todos os debates que ele teve com os crentes. Porque há algo extraordinário sobre ele e também, é claro, porque tem apelo entre nós. Ele diz "Você poderia não existir e estar aqui, mas está, então deve haver algo majestoso." É obviamente algo atraente para nós. Algumas vezes algo antropocêntrico.
Vejamos as consequências e os exemplos. Vejamos os aspectos exteriores desse argumento: onde calhou de nós estarmos.
Um sistema solar minúsculo, bem no limite do universo conhecido, com um sol que no futuro vai explodir numa anã vermelha e nos cozinhar vivos, no único planeta do sistema solar que pode sustentar e tem sustentado algo como a vida. Os outros planetas são ou muito quentes ou muito frios. Isso apenas na nossa vizinhança, no nosso "quarteirão".
Isso também é verdade para grande parte do nosso planeta, sobre o qual sabemos de todos os argumentos.
Dinesh:
Você está me enrolando agora. As perguntas devem ser feitas e respondidas por um e por outro.
Hitchens:
E tudo está por um fio da navalha climático. Então eu digo, tenha isso em mente, isso é um projeto e tanto ... e um projetista e tanto. (irônico)
Dinesh:
Bem, você disse que ...
Hitchens:
É minha vez de apresentar uma questão. Eu vou abandonar minha questão se você me perguntar sua questão novamente sobre a tirania ateísta. E não vou tomar muito tempo.
Dinesh:
Eu estou disposto a lhe perguntar essas questões se você permitir um exame mútuo, porque de outro jeito, eu faço uma pergunta e você vai tomar todo o tempo.
Hitchens:
É por isso que eu perguntei se essa condição seria justa. Eu tenho que responder à questão, mas você prefereria que eu perguntasse... devemos deixar para...
Dinesh:
Vamos fazer dessa forma. Que tal eu jogar a bola no seu campo e você apresentar suas questão para mim nesse tópico e daí a gente pode ir e voltar?
Hitchens:
Sobre essa questão do ateísmo e ditaduras seculares que eu estava mencionando, você já se deu conta de que o movimento totalitário original do século XX, aquele que na verdade inventou o termo "totalitário" e o clamou para si, o movimento de Mussolini, Franco, Salazar, a Ustasha na Croácia, Padre Tiso na Eslováquia - você pode ver aonde estou indo com isso - é basicamente um outro nome para "a direita católica".
Não há nada de secular no Fascismo. Se não fosse assim, o Vaticano não teria assinado tratados e concordatas com todos os movimentos e governos que o Fascismo criou. Eu acho que não preciso desperdiçar muito do seu tempo. A Igreja continua a se desculpar por isso e por envolvimentos similares com movimentos políticos e governos da América Latina depois da Segunda Guerra, depois que a principal batalha contra o Fascismo havia acabado.
A versão Alemã não é o mesmo caso. É bem claro que Hitler detestava o Cristianismo embora nunca tenha repudiado seu Catolicismo. Ele louvou a Igreja no Mein Kampf e pediu que seu aniversário fosse celebrado - e ele foi, todo ano - em cada igreja católica da Alemanha por ordem do Vaticano.
Dinesh:
Depois dessa, é minha vez?
Hitchens:
Em vista disso, em vista do fato de que ninguém... de acordo com Paul Johnson, historiador católico (que eu acho que elogiou seu trabalho) até 50% da SS era de católicos que confessavam, nenhum jamais foi ameaçado de excomunhão por suas atividades.
O único excomungado foi Joseph Goebbels e vocês querem saber o porquê? Quer dar um palpite? Ele se casou com uma protestante. Ele se casou com uma moça que era protestante. A Igreja disse: Dá licença, nós temos nossos limites.
Isso não é secularismo, Dinesh. É bastante falso dizê-lo e é uma insinuação que eu rejeito, que isso seria resultado de políticas de secularismo.
Dinesh:
Você já notou que Christopher Hitchens focalizou numa questão - Hitler e os líderes nazistas - deixando intocados e, de fato, não mencionando os males do Comunismo.
Hitchens:
(protesta) Você queria que eu parasse!
Dinesh:
Espera. Essa é a minha vez. Esse é o conceito de justiça do ateu: segurar a arena pública completamente para nós e expulsar todas as religiões para fora.
Hitchens:
Você quis me parar.
Dinesh:
Eu preciso de 2 minutos para lhe responder.
Não apenas ele não mencionou Stalin, não apenas ele não mencionou Mao. Ele não mencionou Pol Pot, Ceaucescu, Fidel Castro, Kim Jong Il. Richard Dawkins em "The God Delusions" disse "Bem, há uma grande diferença, os Cristãos fizeram o que fizeram em nome da religião, mas os ateus não estão cometendo crimes em nome do ateísmo."
Isso é o que acontece quando você deixa um formado em Biologia escapar do laboratório: eis um cara que não sabe nada de história - eu não o acusaria disto, Christopher - mas tudo o que você tem que fazer é ler Marx. Tudo o que você tem que fazer é se familiarizar com o Comunismo. Era uma ideologia explicitamente ateísta que buscou criar um novo homem, uma nova utopia liberada dos grilhões da religião tradicional e da moralidade tradicional.
Não era por coincidência, como os Marxistas diziam. Eles sempre tinham como alvo as igrejas, eles sempre matavam o clérigos e os padres e assim por diante.
Agora, o caso sobre Hitler é interessante. Vocês deveriam ler a obra em vários volumes de Richard Evans, "History of the Third Reich".
"No começo", Hitler pensou, "eu posso fazer amizade entre os Luteranos e Católicos." Então ele inventou algo chamado de "Cristianismo positivo", que basicamente era o "Nazismo Cristão". Ele louvava Cristo dizendo simplesmente que Ele seria o único alerta contra as ameaças vindas dos Judeus.
Mas você só precisa ler o livro para perceber que Hitler odiava o Cristianismo. Ele contratava e se cercava de pessoas que eram todos ateus e seu objetivo explícito era, no momento em que chegassem ao poder, destruir a Igreja, que era vista fazendo o quê? Colocando um pouco de oposição moral aos planos horríveis dos nazistas.
Então no fundo, não eram os Cristãos. Os Cristãos podem ser responsabilizados, mas os ateus não. Os regimes ateus mataram mais pessoas numa semana do que a Inquisição matou em 3 séculos. E por que? Por causa da máxima escrita por Dostoyevsky no livro "Os Irmãos Karamazov": "Se Deus não existe, tudo é permitido".
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Transcrição.
Um cavalheiro nascido em Tonga pergunta:
Professor Hitchens, eu venho de Tonga. Antes do Cristianismo chegar em Tonga e Fiji, em Fiji as pessoas se alimentavam umas das outras. Em Tonga era o caos. Minha questão é: digamos que o Cristianismo nunca tivesse chegado ao Pacífico. O que você teria a nos oferecer como ateísta?
Christopher Hitchens:
Tonga foi uma ex-colônia britânica - eu estou certo de que foi por isso que os Cristãos chegaram até lá - graças ao imperialismo britânico. Esse me parece um problema tremendo. Por que a redenção jamais foi mandada para essa ilha?
Isso me leva à questão que eu já havia abordado: 98 mil anos de existência humana e os céus observaram com indiferença. Agora esperam que acreditemos que, há 2 mil anos atrás, Ele intervém através de um sacrifício humano, no qual todos devem acreditar, e essa é a salvação.
E ela não é oferecida para os chineses, que à essa época podem ler, escrever, construir barcos, ter bibliotecas, pólvora e podem espalhar uma idéia. Não. Leva vários anos até que chegue à China. Há partes de Borneo onde as pessoas ainda praticam canibalismo, aonde essa mensagem ainda não foi divulgada.
Isso não é problema para mim, pois eu considero como um problema criado por humanos. A resposta para você - a menos que você acuse o humanismo ou secularismo de defenderem o canibalismo, coisa que eles não fazem - é como é que pode esse projeto, essa revelação, essa redenção, baseada em fé - e eu devo lembrar Dinesh que minha identificação do problema era precisamente a fé em detrimento da razão e da evidência - por que parece não funcionar?
Por quê há tanto sofrimento, miséria, ignorância, atraso e barbarismo? Por que essa questão fica sem resposta nos termos em que ela é perguntada? Você acabou de perguntá-la para Tonga e Fiji.
Dinesh D'Souza:
Eu acho que Christopher não percebeu a força do argumento aqui, que não é simplesmente que os Cristãos têm sido negligentes em divulgar essa mensagem universal, mas que quando o Cristianismo chegou ao resto do mundo, ele trouxe novos valores para essas culturas.
Uma vez eu disse a meu avô: por que somos parte de uma minúscula minoria Cristã na Índia? E ele disse duas palavras: a Inquisição Portuguesa, significando que alguns missionários muito zelosos, possivelmente acompanhado de baionetas, chegaram à Índia e Cristianizaram os indianos.
Contudo, eu quero dizer duas coisas acerca disso. Mesmo que tenha ocorrido no início, logo você observa que um grande número de indianos correu para o Cristianismo - e por quê?
Conforme eu fui examinando esse assunto e ficando mais velho, eu descobri que no sistema de castas da Índia, você tem 4 castas com os párias por baixo de todos. Se você nasceu pária, você está acabado, não há para onde ir, você não consegue se safar.
Muitas pessoas da classe pária foram muito atraídas para o Cristianismo, pois eles o viam como afirmação da idéia de igualdade espiritual entre as pessoas. Isso não foi imediatamente traduzido e levou bastante tempo até ser traduzido em completa igualdade política e social, mas ele significou que havia algo a dizer a eles: "Você não é um nada, você não é um cão, você é um ser humano e só isso conta muito."
O que o cavalheiro estava tentando dizer é que a maior parte do mundo não tem isso. Nós não o tínhamos na civilização ocidental tampouco. O Cristianismo o trouxe.
Ele importou um pouco disso do Judaísmo, mas o Judaísmo era para a tribo: Deus instruiu seu povo escolhido. O Cristianismo toma a idéia e a universaliza.
Se você olhar para os direitos divulgados pela ONU, a Declaração dos Direitos Humanos, você notará algo muito interessante. Você lê esses direitos, eles são universais? Não, praticamente todos esses direitos são uma herança específica do Cristianismo. É bom que eles sejam universalizados como o Cristianismo queria desde o início, mas eles não eram os direitos compartilhados e reconhecidos em todas as culturas e práticas, sejam elas religiosas ou não, nas outras culturas.
Então eu penso que estamos observando as pessoas que o experimentaram. Eu não me importo com aqueles inquisidores que vieram há muito tempo atrás. Eu sou um tanto grato por eles, embora provavelmente meus ancestrais não compartilhariam do meu entusiasmo.
Mas eles me trouxeram para a órbita do Cristianismo na civilização ocidental e o fato de que os valores que tenho, as crenças que tenho - respeito à dignidade, às mulheres, igualdade e assim por diante - são inteiramente uma herança do Cristianismo como foi "exportado". E sinto em dizer, não o foi pelos britânicos, mas pelos portuguêses. Os britânicos teriam feito um trabalho melhor.
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Fonte: <http://pensadoresbrasileiros.blogspot.com/2008/06/transcrio-dinesh-dsouza-christopher.html>.
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