quarta-feira, 1 de março de 2023

Olavo de Carvalho - Amor correspondido

“Então você vai ver o seguinte, que primeiro você quer conquistar a simpatia. Para conquistar a simpatia, você precisa mostrar interesse pelas pessoas. Só que se você estiver interessado nelas só para conquistar simpatia, você não está verdadeiramente interessado: o seu foco de atenção não é nelas, mas [em] você, então isso daí vai falhar. Então a prática disso: ensinar a você a ter interesse genuíno pelas pessoas. Ou seja, eu não preciso pensar na simpatia. Por quê? Porque ela está implícita, eu vou ter simpatia de qualquer maneira. Se eu estiver realmente interessado em ouvir a pessoa, ela vai simpatizar comigo mesmo que eu não esteja pensando nisso; então para que eu vou tentar conquistar simpatia, se a simpatia já vem embutida? Então o foco desloca da conquista de simpatia para o interesse genuíno, e assim [sucede] em muitas outras coisas. Quer dizer, vai havendo uma mudança do eixo da conduta, e daí você vai ver que a simpatia que você quer conquistar não vale a pena o esforço, porque ela é muito fácil.

Por exemplo, eu tenho uma teoria: não existe amor não correspondido. Isso aí eu digo e as pessoas às vezes não entendem. Vamos dizer, o seu amor é não correspondido quando você está morrendo de dó de você mesmo porque aquela pessoa não prestou atenção em você. Então você está mortalmente apaixonado por si mesmo, você está cuidando de si mesmo, então é claro que a mulher nem vai ligar para você. Mas se você tiver verdadeiro amor por ela, quiser o bem dela, quiser a felicidade dela e esquecer de você, ela vai amar você de qualquer jeito. É irresistível. Então o problema não é como eu vou conquistar o amor da fulaninha, não: [o problema é:] como eu vou amá-la verdadeiramente! Na hora que você tiver isso, é irresistível; só se for uma pessoa totalmente pervertida e louca que não quer… Tem gente que é assim, tem duas ou três que são assim. Cuidado com essas. Aquela [que pensa]: “Ah, você tem amor por mim? Então você não presta, tem que apanhar”. Tem mulher que só judia do cara; quer dizer, quando o maltrata é porque [ele] gosta dela; [e] quanto mais sincero for o amor, mas ela vai maltratar. Essa, você dá um pontapé no traseiro e esqueça, é uma pervertida. Mas, em geral, com pessoas normais o amor é sempre correspondido.

Às vezes pode não ser correspondido no mesmo nível que você quer por uma impossibilidade: a mulher está casada com seu fulano, e você está lá apaixonado por ela, o que você quer? Ela vai amar você, mas isto não quer dizer que ela vai sair e ir para cama com você. Então você trate de se acostumar, falar: “Olha, nós vamos ter esse amor pelo resto de nossas vidas, mas não podemos chegar em certos finalmentes, não está certo isto”. Inclusive, você querer por toda lei conquistar a mulher nessa condição não é verdadeiro amor, porque você está querendo o mal dela. Olha, o amor é um negócio assim que vem a atração, a paixão, o tesão junto com a verdadeira bondade e generosidade, e de uma tal maneira que uma coisa é indiscernível da outra: só aí você tem amor. Se houver dualismo, acabou, não funciona.

Então, por exemplo, você está apaixonado pela fulaninha. Você tem certeza de que casar com você é a melhor coisa que ela pode fazer na vida dela? [Você pode afirmar:] “Não tem outro melhor para você do que eu!”. Você tem certeza disto? Se você não tem certeza, com que direito você quer isso para a mulher, e ainda diz que é por amor? Você quer é ferrar com a vida dela. Agora, se você pensar e falar: “Não, de fato, ela não vai ter um melhor do que eu, eu sou o melhor porque eu sou mais sincero, eu gosto realmente dela, eu sou isso, eu sou aquilo e ainda sou bonito e gostoso, etc. etc. Então eu quero isso para ela porque eu quero que ela seja feliz.” Então você não vai chegar com timidez e tal porque você sabe que o que você está oferecendo é bom. E se ela não quiser, então é uma cretina.

Através da cultura você vai esquecendo de si mesmo e passa a ter preocupações maiores que o abrangem e que resolvem aquelas primeiras: é assim que faz a passagem [para outro plano de compreensão]. Então… [você deixa] o subjetivismo da adolescência… [porque] você sabe… a hora que você [vai] perceber que você tem verdadeiro amor por uma pessoa ou por várias pessoas, não só no domínio sexual evidentemente. E note bem: se você tem verdadeiro amor e esse amor é rejeitado, você não se sente deprimido, você não se sente diminuído, você fica é com dó da pessoa, você fala: “Mas que cretina! Essa mulher não quer, ela quer se ferrar. Que se dane, não estou aqui para perder tempo com idiota.” Quer dizer, à medida que a sua preocupação vai subindo, você vai perdendo aquele medo, aquele temor de não ser aceito, de não ser gostado. Porque ser gostado é a coisa mais fácil do mundo, gente!, para que perder tanto tempo com essa besteira? Não precisa! Tenha um interesse genuíno, tenha um amor verdadeiro pelas pessoas, e elas vão gostar de você; e se não gostar, aí você vai ter a certeza de que são idiotas. Em suma, aos poucos, você vai se extraindo do julgamento dos outros na medida em que você adquire a certeza das suas intenções. Não é que você vai desprezar a opinião dos outros — a gente nunca deve desprezar a opinião do outro — simplesmente você não precisa dela porque você já sabe o que você está fazendo. E eu acho que isso responde as duas perguntas.”

Fonte: COF 17

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