segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Por que os intelectuais odeiam o capitalismo?

Por que os intelectuais odeiam o capitalismo?
N. do T.: o artigo a seguir foi adaptado de um discurso improvisado feito pelo autor, daí o seu tom mais coloquial.

Por que os intelectuais sistematicamente odeiam o capitalismo?  Foi essa pergunta que Bertrand de Jouvenel (1903-1987) fez a si próprio em seu artigo Os intelectuais europeus e o capitalismo.
Esta postura, na realidade, sempre foi uma constante ao longo da história.  Desde a Grécia antiga, os intelectuais mais distintos — começando por Sócrates, passando por Platão e incluindo o próprio Aristóteles — viam com receio e desconfiança tudo o que envolvia atividades mercantis, empresariais, artesanais ou comerciais.
E, atualmente, não tenham nenhuma dúvida: desde atores e atrizes de cinema e televisão extremamente bem remunerados até intelectuais e escritores de renome mundial, que colocam seu labor criativo em obras literárias — todos são completamente contrários à economia de mercado e ao capitalismo.  Eles são contra o processo espontâneo e de interações voluntárias que ocorre de mercado.  Eles querem controlar o resultado destas interações.  Eles são socialistas.  Eles são de esquerda.  Por que é assim?
Vocês, futuros empreendedores, têm de entender isso e já irem se acostumando.  Amanhã, quando estiverem no mercado, gerenciando suas próprias empresas, vocês sentirão uma incompreensão diária e contínua, um genuíno desprezo dirigido a vocês por toda a chamada intelligentsia, a elite intelectual, aquele grupo de intelectuais que formam uma vanguarda.  Todos estarão contra vocês.
"Por que razão eles agem assim?", perguntou-se Bertrand de Jouvenel, que em seguida pôs-se a escrever um artigo explicando as razões pelas quais os intelectuais — no geral e salvo poucas e honrosas exceções — são sempre contrários ao processo de cooperação social que ocorre no mercado.
Eis as três razões básicas fornecidas por de Jouvenel.
Primeira, o desconhecimento.  Mais especificamente, o desconhecimento teórico de como funcionam os processos de mercado.  Como bem explicou Hayek, a ordem social empreendedorial é a mais complexa que existe no universo.  Qualquer pessoa que queira entender minimamente como funciona o processo de mercado deve se dedicar a várias horas de leituras diárias, e mesmo assim, do ponto de vista analítico, conseguirá entender apenas uma ínfima parte das leis que realmente governam os processos de interação espontânea que ocorrem no mercado.  Este trabalho deliberado de análise para se compreender como funciona o processo espontâneo de mercado — o qual só a teoria econômica pode proporcionar — desgraçadamente está completamente ausente da rotina da maior parte dos intelectuais.
Intelectuais normalmente são egocêntricos e tendem a se dar muita importância; eles genuinamente creem que são estudiosos profundos dos assuntos sociais.  Porém, a maioria é profundamente ignorante em relação a tudo o que diz respeito à ciência econômica.
A segunda razão, a soberba. Mais especificamente, a soberba do falso racionalista.  O intelectual genuinamente acredita que é mais culto e que sabe muito mais do que o resto de seus concidadãos, seja porque fez vários cursos universitários ou porque se vê como uma pessoa refinada que leu muitos livros ou porque participa de muitas conferências ou porque já recebeu alguns prêmios.  Em suma, ele se crê uma pessoa mais inteligente e muito mais preparada do que o restante da humanidade.  Por agirem assim, tendem a cair no pecado fatal da arrogância ou da soberba com muita facilidade.
Chegam, inclusive, ao ponto de pensar que sabem mais do que nós mesmos sobre o que devemos fazer e como devemos agir.  Creem genuinamente que estão legitimados a decidir o que temos de fazer.  Riem dos cidadãos de ideias mais simplórias e mais práticas.  É uma ofensa à sua fina sensibilidade assistir à televisão.  Abominam anúncios comerciais.  De alguma forma se escandalizam com a falta de cultura (na concepção deles) de toda a população.  E, de seus pedestais, se colocam a pontificar e a criticar tudo o que fazemos porque se creem moral e intelectualmente acima de tudo e todos. 
E, no entanto, como dito, eles sabem muito pouco sobre o mundo real.  E isso é um perigo.  Por trás de cada intelectual há um ditador em potencial.  Qualquer descuido da sociedade e tais pessoas cairão na tentação de se arrogarem a si próprias plenos poderes políticos para impor a toda a população seus peculiares pontos de vista, os quais eles, os intelectuais, consideram ser os melhores, os mais refinados e os mais cultos.
É justamente por causa desta ignorância, desta arrogância fatal de pensar que sabem mais do que nós todos, que são mais cultos e refinados, que não devemos estranhar o fato de que, por trás de cada grande ditador da história, por trás de cada Hitler e Stalin, sempre houve um corte de intelectuais aduladores que se apressaram e se esforçaram para lhes conferir base e legitimidade do ponto de vista ideológico, cultural e filosófico.
E a terceira e extremamente importante razão, o ressentimento e a inveja.  O intelectual é geralmente uma pessoa profundamente ressentida.  O intelectual se encontra em uma situação de mercado muito incômoda: na maior parte das circunstâncias, ele percebe que o valor de mercado que ele gera ao processo produtivo da economia é bastante pequeno.  Apenas pense nisso: você estudou durante vários anos, passou vários maus bocados, teve de fazer o grande sacrifício de emigrar para Paris, passou boa parte da sua vida pintando quadros aos quais poucas pessoas dão valor e ainda menos pessoas se dispõem a comprá-los.  Você se torna um ressentido.  Há algo de muito podre na sociedade capitalista quando as pessoas não valorizam como deve os seus esforços, os seus belos quadros, os seus profundos poemas, os seus refinados artigos e seus geniais romances. 
Mesmo aqueles intelectuais que conseguem obter sucesso e prestígio no mercado capitalista nunca estão satisfeitos com o que lhes pagam.  O raciocínio é sempre o mesmo: "Levando em conta tudo o que faço como intelectual, sobretudo levando em conta toda a miséria moral que me rodeia, meu trabalho e meu esforço não são devidamente reconhecidos e remunerados.  Não posso aceitar, como intelectual de prestígio que sou, que um ignorante, um parvo, um inculto empresário ganhe 10 ou 100 vezes mais do que eu simplesmente por estar vendendo qualquer coisa absurda, como carne bovina, sapatos ou barbeadores em um mercado voltado para satisfazer os desejos artificiais das massas incultas."
"Essa é uma sociedade injusta", prossegue o intelectual.  "A nós intelectuais não é pago o que valemos, ao passo que qualquer ignóbil que se dedica a produzir algo demandado pelas massas incultas ganha 100 ou 200 vezes mais do que eu".  Ressentimento e inveja.
Segundo Bertrand de Jouvenel,
O mundo dos negócios é, para o intelectual, um mundo de valores falsos, de motivações vis, de recompensas injustas e mal direcionadas . . . para ele, o prejuízo é resultado natural da dedicação a algo superior, algo que deve ser feito, ao passo que o lucro representa apenas uma submissão às opiniões das massas.
[...]
Enquanto o homem de negócios tem de dizer que "O cliente sempre tem razão", nenhum intelectual aceita este modo de pensar.
E prossegue de Jouvenel:
Dentre todos os bens que são vendidos em busca do lucro, quantos podemos definir resolutamente como sendo prejudiciais?  Por acaso não são muito mais numerosas as ideias prejudiciais que nós, intelectuais, defendemos e avançamos?
Conclusão
Somos humanos, meus caros.  Se ao ressentimento e à inveja acrescentamos a soberba e a ignorância, não há por que estranhar que a corte de homens e mulheres do cinema, da televisão, da literatura e das universidades — considerando as possíveis exceções — sempre atue de maneira cega, obtusa e tendenciosa em relação ao processo empreendedorial de mercado, que seja profundamente anticapitalista e sempre se apresente como porta-voz do socialismo, do controle do modo de vida da população e da redistribuição de renda.

Fonte: aqui.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Efeito Paulo Freire na Educação

Com a renda que tem, o Brasil poderia ter um sistema educacional melhor? E por que não tem? por Roberto Ellery Roberto Ellery 

Fonte: aqui.

Explicar o que faz com que os estudantes de um determinado país sejam bem avaliados em exames internacionais e os de outros sejam mal avaliados não é uma tarefa fácil, nem simples; pelo contrário, exige um esforço de coleta e análise de dados significativo, de forma a permitir ao pesquisador avaliar diversos fatores que podem determinar o desempenho dos estudantes. 

É possível que um país gaste muito com educação, porém seu gasto não seja bem canalizado para permitir o melhor aprendizado dos alunos – uma escola de ouro sem bons professores, afinal, dificilmente formará bons alunos. Também é possível que questões culturais, além de outros fatores que não dependem da escola em si, tenham um papel significativo no desempenho do aluno. Um estudante em uma boa escola, com bons professores, pode ter seu desempenho prejudicado por uma família ou uma vizinhança abusiva, ou por um meio cultural que desestimule seus estudos. São muitos aspectos, de forma que não é pretensão deste texto esgotar ou mesmo fazer uma abordagem científica do tema. A ideia do texto é tão somente argumentar que com a renda per capita que tem, o Brasil poderia ter um sistema educacional que permitisse a seus estudantes um melhor desempenho nos testes internacionais. Dito de outra forma: nossa pobreza não é desculpa para nossos resultados ruins. 

Para apresentar meu argumento, peguei a nota de cada país no programa internacional de avaliação de alunos – o PISA de 2012 – e comparei com o PIB per capita de 2011. Escolhi 2011, porque esse é o último ano da Penn World Table (PWT). Reproduzi as contas com dados do FMI para 2012 e os resultados foram os mesmos – como a PWT permitiu usar mais países, escolhi não usar os dados do FMI. 

O PISA é composto por três provas: leitura, ciências e matemática. Para a análise usei a média das três provas (link aqui). Consegui dados para 65 países. Após cruzar com a PWT, e retirar outliers, fiquei com 61 países. 

Destes 61 países, sete (Albânia, Argentina, Colômbia, Indonésia, Jordânia, Peru e Tunísia) ficaram com média inferior à do Brasil – destes, apenas a Argentina tem PIB per capita maior que o nosso. Por outro lado, China, Tailândia e Vietnam conseguiram médias maiores que a do Brasil – mesmo tendo PIB per capita inferior ao brasileiro. Até aqui não há muito a concluir. Porém alguma conclusão começa a ser esboçada quando observamos que dos 15 países com melhores notas (o quarto superior) sete estão na Ásia (China, Hong Kong, Japão, Coreia, Cingapura, Taiwan e Vietnam) e que dos quinze países com as piores notas (o quarto inferior) oito são latino americanos (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, México, Peru e Uruguai). Difícil não pensar que existe algo no sistema de ensino da Ásia que faz com que os alunos de países pobres e ricos se saiam bem, ao mesmo tempo em que existe algo no sistema de ensino da América Latina que faz com os alunos apresentem desempenho tão baixo. 

A figura abaixo ilustra o ponto. Nela estão marcados o PIB per capita e a média do PISA nos 61 países da amostra, os países da América Latina estão em destaque. Repare que todos ficam abaixo da linha de regressão (para os curiosos o p-value foi 9.82e-09 e o R2 foi 0.43). A linha de regressão mostra o quanto devia ser a nota de cada país para cada valor do PIB per capita. O significado disto é que se usarmos apenas o PIB per capita para explicar o desempenho dos estudantes (espero ter deixado claro no primeiro parágrafo as limitações do exercício) os países latino americanos estão com notas menores do que deveriam.

A próxima figura repete a anterior, porém destaca os países do leste da Ásia (excluindo o Oriente Médio e as antigas repúblicas soviéticas, especificamente Jordânia e Cazaquistão). Repare que, com exceção da Malásia, todos os países estão na linha ou acima da linha. Vietnam e China são particularmente impressionantes no sentido que, mesmo com PIB per capita muito baixo, conseguem excelente desempenho nos exames do PISA. A última figura destaca apenas o Brasil. 

Insisto mais uma vez que os resultados desse texto devem ser vistos como uma provocação – ou, quando muito, como uma exploração preliminar. Neste sentido que concluo que existe alguma diferença entre os sistemas de ensino da América Latina e da Ásia que faz com que estudantes asiáticos tenham melhor desempenho no PISA quando comparados aos estudantes latino americanos, mesmo quando se leva em conta o PIB per capita dos países. 

Embarcando no clima de provocação e fazendo uma pequena homenagem ao pessoal do Instituto Liberal do Centro Oeste (ILCO), que andou sendo criticado pelo crime supremo de questionar a obra de um intelectual respeitado, vou chamar este efeito que diferencia os estudantes da Ásia dos estudantes da América Latina em geral e do Brasil em particular de Efeito Paulo Freire. Assim, além de homenagear o ILCO, também faço uma reverência ao “maior intelectual da América Latina” e patrono da educação brasileira.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Dez monografias incomuns bancadas com dinheiro público

Dez monografias incomuns bancadas com dinheiro público Dissertações de mestrado e teses de doutorado de universidades públicas incluem estudos sobre funkeiro Mr. Catra e vlogueiro Felipe Neto.

Fonte: aqui.

Nota: Esta reportagem da Gazeta do Povo provocou um debate intenso. Logo em seguida, Mylene Mizrahi, autora de uma das teses citadas, teve espaço para expor seu ponto de vista, classificando o texto original como um retrato de um pensamento “elitista e preconceituoso”. O autor então aproveitou a oportunidade para levantar seis fatores que, acredita, não poderiam estar ausentes do debate. Pouco tempo depois, em seu blog, Rogério Galindo afirmou acreditar que a academia deve ser livre para estudar qualquer tema, enquanto Rafael Barros de Oliveira abordou as diferentes perspectivas da discussão, apontando os pontos positivos e negativos levantados por Galindo e Castro. 

sábado, 21 de janeiro de 2023

Chesterton in Love

"Eu gosto dessa janela. Quando a luz cobre seus cabelos, ela forma um halo e lhe faz parecer aquilo que você realmente é" (Fonte).

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segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Chesterton - A Igreja e o Estado

G. K. Chesterton, "The Divine Detective", em A Miscellany of Men (Kindle, pos. 1720-1729).

"A Igreja Cristã pode ser melhor definida como um enorme detetive privado, corrigindo o detetive oficial - o Estado. Isso, de fato, é uma das injustiças cometidas contra o Cristianismo histórico; injustiças que surgem de olhar p...ara complexas exceções e não para o grande e simples fato. [...] A Igreja consentiu, em um momento maligno, imitar a comunidade e empregar crueldade. Mas se nós abrirmos nossos olhos e olhar para a imagem inteira, se olharmos para a forma geral e para a cor da coisa, a verdadeira diferença entre o Cristianismo e o Estado é grande e clara. O Estado, em todos os lugares e épocas, criou um mecanismo de punição, mais brutal e sangrento em alguns lugares, mas brutal e sangrento em todos os lugares. A Igreja é a única instituição que tentou criar um mecanismo de perdão. A Igreja é a única coisa que já tentou criar um método de procurar e descobrir crimes, não a fim de vingá-los, mas a fim de perdoá-los.

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Why I Am a Catholic

Why I Am a Catholic
por G.K. Chesterton, sábado, 31 de Dezembro de 2011 às 07:21
MOST men would return to the old ways in faith and morals if they could broaden their minds enough to do so. It is narrowness that chiefly keeps them in the rut of negation. But this enlargement is easily misunderstood, because the mind must be enlarged to see the simple things; or even to see the self-evident things. It needs a sort of stretch of imagination to see the obvious objects against the obvious background; and especially the big objects against the big background. There is always the sort of man who can see nothing but the spot on the carpet, so that he cannot even see the carpet. And that tends to irritation, which he may magnify into rebellion. Then there is the kind of man who can only see the carpet, perhaps because it is a new carpet. That is more human, but it may be tinged with vanity and even vulgarity. There is the man who can only see the carpeted room; and that will tend to cut him off too much from other things, especially the servants' quarters. Finally, there is the man enlarged by imagination, who cannot sit in the carpeted room, or even in the coal-cellar, without seeing all the time the outline of the whole house against its aboriginal background of earth and sky. He, understanding that the roof is raised from the beginning as a shield against sun or snow, and the door against frost or slime, will know better and not worse than the rest the reasons of the rules within. He will know better than the first man that there ought not to be a spot on the carpet. But he will know, unlike the first man, why there is a carpet.